segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Capítulo 12 - Obsessão
Viver em paz consigo mesmo é fonte perene de alegria e felicidade. Mas, quando me foi dado conhecer pessoalmente o trabalho de recuperação de obsessores e obsediados, uma tristeza tão profunda me atingiu que pareceu partir todo o meu ser, ao ver o estado lamentável em que ficam credores e devedores, verdadeiros atores representantes do ódio, a destruírem-se mutuamente. Constrangedora e até dolorosa a influência negativa exercida por esses irmãos, ainda fixados no egoísmo quase absoluto.

Difícil é o trabalho de socorro a eles, exigindo dos espíritos que se dedicam a esse mister dedicação e
paciência tão grandes que chegamos a ver nessa atitude o reflexo do amor divino, amor sem fronteiras, vencedor do tempo e do espaço, na busca da recuperação de seus filhos. O Pai não abandona Seus Filhos e os socorre através de Seus próprios filhos, envolvendo todos no Seu grandioso amor, esperando, pela eternidade, que voltemos para o cultivo da fraternidade.


Nada melhor que as lições de Allan Kardec para nos ensinar o que seja obsessão. É a ação persistente de um espírito sobre uma pessoa. Apresenta características diversas, desde a simples influência de ordem moral até a completa perturbação do organismo e das faculdades mentais.


As piores obsessões são as de ação vingativa. 

Normalmente, o obsessor e o obsediado se relacionaram em existências anteriores. A obsessão, a subjugação e a possessão levam muitos à loucura.

Normalmente o obsessor tenta dar ao obsediado uma idéia fixa. Às vezes, faz recordar parte da existência anterior para que ele se confunda. Quase sempre, entre o encarnado e o desencarnado, ou os desencarnados, há lutas e troca de ofensas. O ódio e a paixão os unem.

Em nossa aula prática viemos para a Terra, já que tínhamos visto no hospital da Colônia exobsediados, desencarnados, que foram obsediados quando encarnados. Como sempre, viemos de aerobus, paramos num Posto de Socorro, na Terra, e saímos para ver alguns casos de obsessão. O primeiro que analisamos foi de simples influenciação mental. 


Como o de um desencarnado que não sabia que desencarnara e estava perto, ”encostado”, em uma encarnada, uma menina, vampirizando suas energias, ou melhor, trocando energias. Ela começava a sentir sintomas das doenças, do mal-estar que o desencarnado sentia. A menina tinha o pai, desencarnado, perto de si. Sentia dores e tristeza que começavam a afetar seu físico.

Tentamos intuir a mãe a levá-la para tomar passes.


Foi um alívio para nós, quando ela resolveu ir a um
Centro Espírita. Ao tomar o passe, o espírito também recebe e se sente melhor. O pai, desencarnado, foi convidado a permanecer no Centro Espírita, para ser doutrinado mais tarde, na sessão de desobsessão.


Vimos um encarnado, fanático religioso, tendo perto de si um desencarnado também fanático, os dois se afinavam. Estavam sempre a discutir religião.


Olhamos, observamos e nada fizemos, os dois se sentiam bem assim.

Entramos em três bares. Os encarnados bebiam. E eram poucos os que não estavam acompanhados
por desencarnados. Ali, muitos espíritos sugavam o hálito dos que bebiam, embriagando-se juntos. 


Alguns desencarnados bêbados, ou que queriam beber, ficavam perto de qualquer encarnado que bebia.

Outros desencarnados ali estavam com companhia fixa. Vimos um que obsediava um encarnado, mas não se embriagava, queria que seu obsediado bebesse para se tornar ridículo, um farrapo humano.

Os desencarnados bebiam e fumavam, participando das conversas dos encarnados. É estranho ver desencarnados bêbados.

Não diferem dos encarnados. Brigam entre si, riem, caem, dizem grosserias. Alguns parecem animais e, na maioria, são sujos, com cabelos e unhas grandes, e babam. Ali só observamos, sem sermos vistos.

Não fizemos socorro.

- Nem todos os encarnados bebem por influência dos desencarnados! - Zé comentou.


- Grupos se afinam, ambos, encarnados e desencarnados, bebem porque gostam. São escravos dos vícios, até que se libertem - respondeu D. Isaura.


- Esses desencarnados ficam muito tempo assim? - Luíza indagou.


- Depende de cada um - respondeu novamente D. Isaura. Uns ficam muitos anos, outros cansam-se
logo. Esses espíritos são presas fáceis de espíritos do Umbral, que os fazem escravos. Mas, quando querem largar o vício, sempre encontram ajuda, sejam encarnados ou desencarnados.


Fomos ver um grupo se drogando. Eram oito encarnados, só dois adultos, e os seis jovens já estavam dopados. Tive dó, conheci alguns. Também não pudemos fazer nada. O grupo dos desencarnados que se drogava com eles era maior: vinte, todos perturbados. Figuras estranhas, sujas e mal cheirosas. Os drogados encarnados ainda têm sempre quem cuide deles, mas os desencarnados que se drogam, não; e para eles nada mais importa.


Fizemos um cerco ao redor deles.

Raimundo se fez visível aos desencarnados.


Irradiou grande luz, que por momentos os tonteou.


Temeram, tentaram fugir, mas não conseguiram.

Raimundo falou com eles. Convidou-os a uma libertação, a um tratamento.


Eles, após o susto, escutaram quietos, mas com risos cínicos. Quando Raimundo acabou de falar, eles
vaiaram. Nenhum se interessou em mudar. Já tínhamos observado o bastante e fomos embora, deixando todos drogados.


Fomos a um Centro Espírita, numa sessão de desobsessão. Ali estavam três obsediados com seus
acompanhantes.


O primeiro caso, o mais simples, era de uma senhora que estava acompanhada por sua irmã, que não sabia ter desencarnado.


O fato de desencarnar e ficar com familiares é comum, e também fácil de resolver, porque basta fazer o desencarnado entender seu estado e levá-lo para um socorro.


Há casos em que o desencarnado volta, mas normalmente o problema é resolvido facilmente no
Centro Espírita.


- Se a obsediada não tivesse vindo ao Centro Espírita, o que aconteceria? - Indagou Terezinha.


- O desencarnado acabaria por entender seu estado, ou clamaria por auxílio, ou sairia a vagar;
situações assim normalmente não duram muito, embora provoquem muitos transtornos - respondeu
Frederico.


O segundo caso era de uma moça cujo obsessor era um apaixonado, desprezado na existência anterior
e que agora a obsediava. Não queria que ela fosse feliz nem arrumasse namorado. Também não foi difícil de resolver. Incorporado, recebeu orientação, sendo levado a um Posto de Socorro para se tratar. O terceiro caso, mais difícil, só seria resolvido após um tratamento com passes e com a desobsessão dirigida aos dois. 


Juntos há tempos, estavam tão unidos que não se podia afastá-los sem um preparo. Os dois estavam sendo orientados.

O Centro Espírita é sem dúvida um Posto de Socorro para espíritos encarnados e desencarnados
doentes, um amparo a todos os que sofrem. Amo de forma especial os Centros Espíritas ativos no bem e dou graças por ter conhecido, quando encarnada, o Espiritismo.


Fomos para o sanatório. Ficamos alojados no Posto de Socorro, no plano espiritual, junto ao hospital
material.


O Posto é muito bonito, simples, confortável, bem moderno e aparelhado. A equipe dos
desencarnados de lá auxilia também os encarnados doentes. Ali ficamos quatro dias. Chegamos à noite e fomos descansar. No dia seguinte cedinho, fomos ao salão e fizemos orações pedindo ao Pai a compreensão para ajudar com sabedoria.


Muitos dos internos estavam obsediados. Quando chegam a ponto de ficar doentes mentais é porque a
obsessão existe há bastante tempo; e obsessões de muito tempo quase sempre danificam o físico. 


Necessitam os doentes de tratamento para a matéria. 

Observamos também que muitos dos desencarnados, obsessores, estavam igualmente perturbados, doentes também. 

Muitas das obsessões eram por vingança e cobrança.

Pusemo-nos a trabalhar. Separamo-nos em grupos de três a cinco, para ajudar um de cada vez.


Quando essas excursões vêm a hospitais e sanatórios, os encarnados que cuidam dos doentes sempre comentam: "Que paz há por aqui! Estes dias estão tranqüilos".


Ajudaríamos, nesses dias, os encarnados enfermos, os enfermeiros, os médicos, enfim todos os que lá
trabalham. Meu grupo se aproximou de uma jovem negra, tinha dezoito anos. Ao seu lado, uma moça branca desencarnada. As duas, no passado, na encarnação anterior, apaixonaram-se pelo mesmo homem. A desencarnada tinha se suicidado ao se ver desprezada. A jovem negra na outra encarnação não foi boa, cometeu muitos erros. Reencarnou com vontade de acertar, e é honesta. Apaixonou-se novamente pelo amor do passado. A outra, desencarnada, não quis e não quer ver os dois juntos, interferiu de tal forma, obsediando a rival, que ficou perturbada e foi internada no sanatório. O rapaz casou-se com outra.


A desencarnada não sabe. A jovem encarnada falava o tempo todo em fogão. Ora ela era um fogão e, quando falava isso, a desencarnada ria gargalhando. Ora falava que ganhou um fogão, que a cama era um fogão. A idéia fixa de fogão era a desencarnada que lhe dava, por ela ter se suicidado colocando o fogo de um fogão no corpo.

Tentamos conversar com a desencarnada, mas não foi fácil. 

Ouvia-nos sem entender bem, estava perturbada, e seu pensamento era só o de separar os dois. 

Fizemos círculos de orações, demos passes e, no quarto dia, acabamos por encaminhá-la a um socorro. Foi levada para uma das enfermarias, das que havíamos visitado, para doentes mentais na Colônia. A encarnada também estava doente, mas com o tratamento certo logo ficaria boa.

Vimos uma senhora que ocupava um quarto pago.


Era de família de muitas posses. Ao seu lado
estava uma negra que a obsediava. A encarnada gostava de se enfeitar, a obsessora também, as duas pareciam amigas. Mas era só aparência. Ao tentarmos conversar com a desencarnada, vimos que ela odiava a outra, mas ao mesmo tempo gostava de viver perto dela.


Escutou quieta nossa argumentação. Pensei que fosse naquela hora conosco. Mas nos disse, cínica:

- Acabaram? Já lhes dei muita atenção. Queiram retirar-se. Na segunda vez que nos dirigimos a ela,
ouviu-nos já inquieta. Ao ser convidada a vir conosco, gritou batendo o pé no chão:


- Não e não! Não vou! Por que querem que a largue? Por que querem que ela fique boa? Sabem o que
ela me fez? Era sua escrava, sua aia. Ela sempre foi caprichosa e má, e só porque achou que não passei sua
roupa direito me jogou água quente no rosto e no corpo. Ainda me fez trabalhar toda queimada. A
queimadura infeccionou, passei dias entre a vida e a morte. Sarei e fiquei toda marcada com a pele repuxada.


Isso ela fez comigo! Fez muitas outras maldades, não só a mim, como também a muitos outros escravos. Por
isso, desistam, não vou. Fico com ela até que desencarne.


Frederico aproximou-se e a olhou fixamente, fez com que ela visse, recordasse o porquê dessa reação.


Na existência anterior, fora um capataz que marcava com ferro quente os escravos. Recordou tranqüila.


- Já recordei isso! Outros como vocês tentaram me levar, mostram tudo para mim. Fiz e sofri! Mas
esta fez mais e tem que sofrer. Fico aqui!


Raimundo mostrou-lhe por uma tela portátil a Colônia com toda sua beleza. Olhou curiosa, depois,
cínica, comentou:


- Isso não é para mim! Raimundo nos disse:


- Há muito tempo esta mulher obsedia a outra. A encarnada foi de fato tudo o que ela disse.


Reencarnou na mesma família. Quando adolescente o pai se suicidou e foi ela quem o encontrou enforcado.


Perturbou-se e a desencarnada pôde atuar numa obsessão marcada. Mas recebi ordem do Departamento de
Pedidos para tentar tudo e separar as duas.


Raimundo aproximou-se da desencarnada, olhou-a bem, e as manchas com as bolas da queimadura
apareceram em seu rosto e braços. Ela começou a gritar:


- Feiticeiro! Isto não! Dói muito! Não quero lembrar! Tire isto!


- Só se você vier conosco - respondeu Raimundo tranqüilo.


- Não!


Afastamo-nos, Raimundo nos esclareceu.


- Devo levá-la por livre vontade, seria fácil levá-la à força. Mas a encarnada sentiria muito, podendo
até desencarnar. Se ela vier de livre vontade, embora eu esteja forçando para seu próprio bem, a encarnada
sentirá, mas não irá ser prejudicada.


Raimundo vigiou-a de perto. Ela se contorcia, chorava de dores. Tão ligada estava à encarnada, que
esta ficou inquieta, passando a mão pelo rosto e braços, e começou a queixar-se de dores. Por oito horas a
desencarnada agüentou as dores. Pediu socorro aos gritos. Raimundo se fez visível a ela, abraçou-a
fraternalmente e tirou dela a queimadura.


- Filha - disse Raimundo com carinho -, venha conosco. Venha para ser feliz! Irá aprender muitas
coisas, irá reencarnar e esquecer.


- Vou - disse séria.


- Vá se despedir da encarnada, tire dela seus fluidos.


A desencarnada aproximou-se da encarnada e a abraçou. - Adeus! Vou embora! Deixo você sozinha. Se puder, volto para vê-la.


Raimundo a levou para a Colônia. Sumiram as dores da encarnada, mas ela sem saber por que
começou a chorar sentida. No outro dia estava triste, tudo fizemos para alegrá-la. Ela sentia falta da
desencarnada. Frederico nos disse:


- Ela não era só obsediada. Tem uma lesão no cérebro que se agravou ao ver o pai morto daquela
forma. Agora, sem a obsessão, ela melhorará, mas não irá sarar. Isto é conseqüência dos muitos erros que
cometeu.


Vimos viciados encarnados, internados para se desintoxicarem e espíritos junto a eles, como se
fossem encarnados a se tratarem. Levamos todos os que pudemos para hospitais da Colônia e dos Postos de
Socorro.


Os quatro dias foram produtivos, muito fizemos, muito ajudamos, muito aprendemos. De volta à
Colônia, estávamos satisfeitos. Ajudar nos faz bem. 


A aula de conclusão foi bonita, todos os casos foram
comentados. Marcela suspirou ao dizer:


- Como não se pratica o perdão sincero! Como o erro acarreta sofrimento! Como nos prejudicamos ao
fazer uma ação que necessite de perdão!


As perguntas não foram muitas, porque tudo o que vimos ficou bem explicado. Mas sempre se tem
algo para esclarecer. Glória perguntou:


- Frederico, uma pessoa boa pode ser obsediada por um espírito que se julga prejudicado, mas na
verdade não foi?


- O desencarnado pode tentar se aproximar, mas, se o outro é bom, as vibrações diferem de tal modo
que ele não pode atuar. Também, se o encarnado começar a se perturbar, os bons sempre têm auxílio, seja de
outros encarnados seja de desencarnado.


- E se o encarnado não for tão bom, mas nada fez de mau ao desencarnado, embora este julgue que
fez, pode obsediá-lo? - Perguntou de novo Glória.


- Uma obsessão sem maiores conseqüências, às vezes, não é tão prejudicial quanto imaginam.


Muitas vezes, leva as pessoas procurar ajuda em Centros Espíritas. Se a pessoa não for tão boa, pode
obsediá-la sim. Mas o encarnado, sendo inocente, não irá aceitar. Ele tem seu livre-arbítrio. O que faz o
espírito obsediar é a aceitação do encarnado, por ter a consciência pesada.


- A jovem do fogão irá sarar totalmente? - Ilda perguntou.


- Acredito que sim. Muitas vezes, ao afastar o obsessor, logo o corpo físico se recupera ou, pelo
menos, a doença é controlada.


- Vimos muitos obsessores perturbados. Que acontecerá a eles? - Laís indagou.


- Chegará o dia em que serão socorridos, aí serão submetidos a tratamentos. Quando curados, vão
estudar ou reencarnarão. Mas, enquanto estão vagando, ficam a perturbar e perturbados.


- Não pudemos -trazer todos os obsessores, por quê? - Indagou Cida.


- Seria bom curar todos, socorrer todos. Mas isso traria resultado? Não, continuariam a errar. E para o
erro não há reação? Pudemos trazer os que conseguimos fazer querer o socorro. Argumentamos com todos,
uns quiseram, outros não. Só forçamos a ex-escrava, porque foi pedido pela encarnada. Solicitações que
chegaram ao Departamento de Pedidos foram analisadas e concluiu-se que era chegada a hora de separá-las.


Que bom se pudéssemos atender todos! Mas como desta vez trouxemos muitos, haverá muitas outras vezes.


Aos poucos serão todos a querer o socorro. Só que aí haverá outros. Mas o sofrimento cansa, e os obsessores
sofrem também.


Meditei muito nesses problemas que atingem muitos, como a obsessão, e concluí:


- E falta de seguir os ensinamentos de Jesus! Quem ama o próximo não lhe faz maldades. Quem ama
o próximo não persegue. Quem ama vive em harmonia!

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