segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Capítulo 10 - Ação E Reação
 
Não tivemos muito trabalho na aula prática; realizamos tudo com pouca ajuda.

D. Isaura explicou:


- Tenho aqui algumas fichas de pessoas encarnadas que levarei para a crosta. Iremos vê-las e, pelas
suas fichas, saber qual a ação que desencadeou a reação presente. Deixo claro que nada há de curiosidade, isto é feito para que possam aprender com exemplos verdadeiros.


Viemos para a Terra de aerobus, deixando-o num Posto de Socorro. Todos juntos fomos ver as
pessoas que íamos estudar.


Vimos um homem com quarenta anos aproximadamente. Era alegre, um deficiente mental, conversava sentindo-se muito importante. 


Às vezes, andava com seu cavalo de pau, vendo-se em cima de um garboso cavalo. Tocava uma violinha de brinquedo e cantava canções que ninguém entendia.

Andava pelas ruas, e algumas pessoas o ajudavam, outras mais por brincadeira o contrariavam, deixando-o nervoso. Às vezes, corria atrás das pessoas que mexiam com ele.

Sofria de epilepsia, que, com os ataques, fazia-o cair e debater-se, deixando-o machucado.

- Este irmão - disse D. Isaura - já foi obsedado.


Com o passar dos anos, os espíritos que o
acompanhavam acabaram por desistir da vingança.


Tudo o que sente é reflexo dos erros do passado. 

Nesta encarnação é bem cuidado pela mãe, que por doenças sofre muito também. São muito pobres, passam por muitas necessidades. Ele, na existência anterior, era um senhor de escravos, nesta região mesmo. Foi casado, e sua ex-mulher é agora sua mãe. Foram orgulhosos e cometeram muitas maldades. Para sustentar o luxo, deixavam os escravos quase sem roupas e com pouco alimento. 

Se outrora cavalgava sobre bonitos cavalos, agora anda com seu cavalo de pau. Outrora ia a saraus, onde tocava e cantava, enquanto seus escravos gemiam em sofrimento, agora é ridicularizado enquanto dança e canta pelas ruas.

Mas ele sofre, seu espírito orgulhoso aprende num corpo deficiente, sem saúde, sofrendo ataques que o deixam caído pelas ruas.

Demos passes nele e na mãe. Esta senhora nesta encarnação sofre com humildade. Oramos por eles.


Vimos um mudo, também deficiente mental, que andava perambulando pelas ruas da cidade. Estava a sentir a reação de uma vida anterior de caluniador e intriguista. Desencarnado, teve o remorso destrutivo que danificou suas cordas vocais e o cérebro físico. 


Abusou da inteligência para prejudicar muitas pessoas.

Estava inquieto, tinha dores no abdomem fizemos um circulo de oração, ele se acalmou, emocionou-se e chorou. Frederico elucidou-nos:


- Ele sente as emanações de carinho, pois recebeu bem nossos fluidos. Que seus sofrimentos sejam a
aprendizagem de que necessita. Que ele aprenda para não mais errar.


Vimos um aleijado numa cadeira de rodas. Esse irmão era revoltado, e a revolta que sentia gerava
nuvens escuras em sua volta. Era mal-humorado e invejoso. Dispersamos as nuvens escuras com passes e tentamos dar-lhe pensamentos otimistas. As nuvens sumiram, mas sabíamos que ele logo as criaria
novamente. Vimos seu passado.


Na existência anterior fora casado com uma viúva rica que tinha um filho. Sua esposa tinha um irmão
solteiro, que ia deixar a fortuna para o sobrinho que fosse o melhor peão. O casal teve mais filhos, e ele
queria que a fortuna do cunhado fosse para um de seus filhos e não para o enteado, como tudo indicava.


Planejou um acidente. Ao saber que o enteado ia montar um cavalo bravo, cortou o arreio e ficou
observando. O animal derrubou o mocinho, que ficou inconsciente. Vendo que nada sofrera, pegou um pau e quebrou as duas pernas dele. Naquele tempo não havia os recursos que há hoje, e a medicina não pôde recuperar as pernas dele. Ficou aleijado e não pôde mais montar. Um dos filhos dele acabou recebendo a fortuna. E agora, nesta encarnação, ainda menino, sofreu um acidente e teve as pernas amputadas, deixando-o nesta cadeira.


- Na revolta, resgata seu carma ? - Quis saber Ivo.


- Aquele que se revolta não aproveita o sofrimento como preciosa lição. Sofre, às vezes, mais.


Resgata. A diferença do bem sofrer e mal sofrer é a aceitação e a compreensão do sofrimento. 


Aceitando o sofrimento, ao desencarnar é socorrido logo está bem; desencarnando revoltado não terá o socorro continuará sofrendo até se tornar humilde - respondeu Frederico. - A revolta faz mal a ele mesmo. Faz com que seja desagradável, seja uma pessoa que os outros não gostam de ter no seu convívio. Ele se amargura e sofre mais.

Vimos um casal de cegos. Ser cego não é fácil, basta fechar bem os olhos e pensar que ficaremos por muito tempo assim. Cada um deles tinha ações diferentes para estar sofrendo esta reação. Ela, por ciúmes, mandara cegar uma pessoa. Na existência anterior, ordenou a dois capangas que seqüestrassem uma jovem rival, passassem veneno em seus olhos e a abandonassem na floresta. A jovem teve a visão quase toda danificada. Quando a mandante do crime desencarnou, sentiu remorso, que a fez ficar cega; reencarnou e trouxe para a matéria os olhos sem vida.


Ele é cego e inteligente, é espírito que quer evoluir. 


Ao recordar, desencarnado, de seu passado, de
suas existências anteriores, viu que há muito tempo fora um general que mandava cegar os vencidos.


Isso o chocou de tal forma, que quis vir nesta encarnação cego, para não sentir mais remorso. Os dois trabalham para viver, e é ele quem a sustenta com otimismo e fé.

- Ele não poderia cuidar de pessoas cegas, ajudá-las, em vez de reencarnar cego? - Luíza perguntou.


- A escolha foi dele - respondeu Raimundo. - Temos o livre-arbítrio. Talvez tenha temido falhar.


Pode-se, desencarnado, fazer planos de ajudar pessoas cegas. Aqui, encarnado, mudasse muito, porque as ilusões da matéria fazem quase sempre esquecer os propósitos. Muitos falham. Desencarnados, fazem muitos planos, mas a maioria volta ao plano espiritual falida.


Ao ver estas pessoas, dávamos passes, alegrando-as, fazendo-as sentirem-se melhor. Fomos visitar
uma escola de deficientes mentais. Um número grande de crianças ali estava. Três delas estavam obsedadas.


Primeiramente as cercamos e nos tornamos visíveis para os obsessores. Com delicadeza, tentamos convencêlos a acompanhar-nos, deixando suas vítimas. Dois espíritos que estavam com uma menina nos ouviram atenciosos, e foi com alívio que escutamos que iriam conosco, pois estavam cansados de sofrer e a vingança não os interessava mais. Nós os levamos para o Posto de um Centro Espírita onde, na próxima reunião, seriam doutrinados e levados para uma escola na Colônia.


No segundo caso, o obsessor nos olhou desconfiado, conversou pouco, prometeu pensar em nossas propostas e saiu do local. Havia uma criança obsediada que era influenciada por dois espíritos.

Os três estavam bem entrelaçados. Os obsessores nos escutaram de forma confusa não chegando a nos entender.

Raimundo disse:


- Não podemos no momento fazer nada, mas este local é visitado sempre por socorristas, que darão
atenção especial a estes três, que por erros comuns estão entrelaçados no ódio. Como estão, se afastarmos um dos desencarnados, a criança corre o risco de desencarnação. Ela é novata na escola, acredito que logo os socorristas conseguirão orientar estes desencarnados e levá-los para um socorro.


São muitas as más ações que levam os espíritos a reencarnar com deficiências mentais. É raro, mas há
espírito que, por determinado objetivo, reencarna deficiente sem ser pela reação negativa. Ali estavam
espíritos que abusaram da inteligência. Outros danificaram o cérebro com tóxicos e álcool. Outros
cometeram suicídio. Alguns praticaram tantos erros e o remorso destrutivo fez com que deformassem o
cérebro perispiritual, trazendo para o corpo esta deformidade, ao reencarnar.


Aproximamo-nos de um menino com deficiência bem acentuada.


Ele fora rico, filho mais velho, e tinha uma irmã. Era adolescente quando o pai desencarnou, deixando a mãe nova e muito bonita. Estava com dezessete anos quando sua mãe começou a interessar-se por outro homem. Ele passou a seguir a mãe e escutou-a conversando com o namorado.


Descobriu que iam se casar e que ela estava grávida. Não querendo que a mãe se casasse e que, ainda, tivesse mais filhos para repartir a herança, planejou o crime, matou a mãe com uma faca e fez a culpa cair sobre um ex-escravo que trabalhava na fazenda. Nessa época, já tinha acontecido a abolição. Fingindo grande dor e indignação, sem esperar um julgamento, mandou colocar o negro no tronco e chicoteá-lo até a morte.

Ainda deu a entender que a mãe era amante do negro. Assim o negro desencarnou no tronco sem maiores problemas para ele. Seu avô ficou sendo seu tutor até a maioridade.

Ficando maior, passou a tutelar a irmã mais nova. Era trabalhador, inteligente e multiplicou os bens. Não querendo que a irmã se casasse, começou, logo que Ficou mocinha, a lhe dar, sem que ela percebesse, tóxico, fazendo-a passar por louca e doente. A irmã desencarnou moça e passou a obsediá-lo. Ele casou, teve filhos, foi respeitado, mas acabou fazendo uso de tóxico, na tentativa de amenizar o remorso. Desencarnou em péssimo estado. A irmã o perseguiu por anos. 

Depois o remorso destrutivo danificou seu cérebro, que fora perfeito.

Reencarnou como vocês agora vêem, centraliza no corpo os fluidos negativos que ele mesmo criou.

Olhamos os deficientes com profundo amor e carinho. Seus sorrisos simples, seus modos frágeis
fazem com que tenhamos vontade de abraçá-los. 


Fizemos isso, passamos-lhes alegria. Nada é eterno e nem a reação é infinita.

Tudo se renova, o tempo passa, a desencarnação vem, e eles, socorridos e orientados, têm outro
reinício. Confesso que me apiedei de todos. Só os imprudentes pensam que nada tem retorno. Ver as pessoas sofrerem as reações, os efeitos, é triste. Se soubessem os encarnados que ninguém faz nada sem retorno e que só anulamos esses efeitos com muito amor e renovação, não cometeriam tantos erros.


Depois de termos ficado horas com eles, findou a excursão e retornamos à Colônia.


Na aula de conclusão, houve muitas perguntas respondidas por Raimundo.


- Pode-se pedir para reencarnar cego, Surdo ou mudo? Indagou Luíza.


- Sim, pode. O Departamento das Reencarnações estuda cada caso. O solicitante recebe orientação e,
se quiser assim mesmo, os instrutores verificam se será bom ou não para ele. Só depois de feito um estudo favorável é que ele pode reencarnar com deficiência, porque a maioria das deficiências são as que criamos em nós mesmos pelos nossos erros.


- Pode-se querer ser deficiente para crescer espiritualmente, progredir? - Ivo indagou.


- Sim. Às vezes um espírito acha que só assim, deficiente na matéria, acordará para o progresso. 


Mas lembro-os que deficiência é um sofrimento que fará bem só a si mesmo. Progredir pelo trabalho no bem, pela transformação interior, é muito mais meritório. Mas há pessoas que conciliam a deficiência com a transformação interior e se dão muito bem. 

Normalmente, quando isso acontece, conseguem arrastar muitos com seu exemplo.

- O que acontece se alguém, sofrendo muito pela reação de más ações, se suicidar? - Marcela
perguntou.


- Além de não quitar seu carma negativo, terá ainda sua situação agravada. Ao suicidar-se, encontrará
dores piores e não terá seus problemas resolvidos.


- Conheço - disse Murilo - um senhor médium que sempre deixa para depois o trabalho no bem, o
trabalho com sua mediunidade. Diz não ter chegado ainda a hora de trabalhar, de seguir a Doutrina Espírita.


Tem um carma negativo a anular. Que acontecerá com ele?


- Não se deve deixar para depois o que se pode e deve fazer hoje, agora. Se ele tem que anular o
carma e não o faz, se perder a oportunidade do amor, só restará a dor. Não basta fazer promessas, tem que
realizar. Não posso afirmar o que acontecerá com ele; talvez, se continuar a recusar-se a trabalhar com a
mediunidade, a dor sábia virá como reação.


- Vimos um deficiente mental que recorda seu passado e seus erros. Os outros não recordam, por quê?


- Indaguei.


- Como vimos, cada caso é um caso. Não se pode tachar nada no plano espiritual como regra geral.


Este espírito fixou tanto a mente nos seus erros, que nem com a reencarnação conseguiu esquecer.


- Que acontecerá com ele? - Quis saber.


- Desencarnará logo, será atendido e internado num hospital, numa ala própria para irmãos com
deficiência mental, e dependerá dele sua recuperação. Depois, como acontece sempre com esses irmãos,
porém não é regra, novamente repito, reencarnará outra vez e aí esquecerá tudo.


- Ele vive as duas existências? - Mauro perguntou.


- Não, ele vive o que é hoje, mas sua mente confusa recorda a encarnação passada, agravando mais
sua deficiência. Tem no passado a idéia fixa.


- É verdade que deficientes mentais são sempre socorridos, ao desencarnar, por uma equipe especial?


- Indagou James.


- Sim, é verdade. São desligados, socorridos em alas próprias de hospitais nas Colônias onde se
recuperam.


- Os sofrimentos são sempre reações? - Indagou Glória. - Como já foi dito, não. Ao pararmos, não querendo progredir, a dor pode nos impulsionar ao
progresso. São muitas as vezes em que o sofrimento nos faz voltar ao Pai Amoroso, a uma religião, à
modificação interior.


Chegou ao término este assunto tão fascinante; tinha algumas horas livres. Fui visitar vovó e amigos.
Lenita estava a minha espera na escola, abraçamo-nos carinhosamente; foi comigo à casa de vovó. 


Que bom
rever amigos. Vovó e suas amigas me receberam com alegria. Conversamos animadas. Fui também ver
minhas violetas, estavam lindas e floridas. Como é bom ser amada desta forma, ser lembrada com carinho
pelos entes queridos e deles receber incentivos.


Estávamos ligados pelo amor verdadeiro, sem egoísmo. As
violetas eram o símbolo deste carinho. Beijei suas florezinhas coloridas e mandei um pensamento de gratidão
a minha mãe.


Falei entusiasmada do curso, contei-lhes detalhes. Vovó comentou:


- Ah! Patrícia, se todos fossem como você, se todos os que desencarnam pensassem e agissem como
você!


- A Terra seria um planeta de regeneração - completei brincando.


Passei momentos agradáveis entre amigos.

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