terça-feira, 12 de setembro de 2017

Capítulo 1 - Novos Amigos 

Saturada de entusiasmo e alegria, não dessa euforia passageira que ocasionalmente nos acontece no
mundo, mas de um estado permanente que envolve de beleza todas as coisas que vemos e tocamos, com esse estado de espírito apresentei-me ao departamento da escola a que fora destinada. Entrei sozinha, atravessei o pátio e caminhei para o setor onde iria conhecer as orientações do curso que iniciaria. O pouco que sabia desse curso deixara-me ansiosa por fazê-lo. 


Adentrei a sala onde iríamos ter a primeira reunião do grupo.

Passando pela porta da sala de aula, vi que muitos já haviam chegado e fui cumprimentada por todos.


Cumprimentos acompanhados de um sorriso franco e de lealdade, que eu tanto apreciava no relacionamento com meus colegas quando estava encarnada. A sala era grande e agradável. As carteiras ou mesinhas eram confortáveis e em cada uma havia uma placa com o nome do candidato.


Procurei a minha e sentei-me, aguardando. Logo, todos os alunos chegaram. Não conhecia ninguém, mas todos eram simpáticos, sentia-me entre amigos, não superficialmente, mas entre aquelas pessoas em quem podemos confiar nossas questões mais íntimas. Como é comum em todos os lugares em que a expectativa impera, grupinhos se formaram em sadia conversação.

- Atenção, por favor!


Os três orientadores entraram na sala. Sentamo-nos e ficamos em silêncio.


- Sou Raimundo.


- Sou Isaura.


- Sou Frederico.


Os três instrutores apresentaram-se e ficaram em pé, em frente do grupo. O instrutor Raimundo nos
explicou que iria fazer a chamada dos presentes para que todos se conhecessem e, se quiséssemos,
poderíamos falar alguma coisa a nosso respeito. 


Que esta atitude abreviaria o conhecimento uns dos outros, tornando-nos uma família. Sentia-me cheia de vida e emoção, voltara a fazer o que tanto gostava: estudar e conhecer outras atividades nesta nova maneira de viver. No lar terreno, havia escutado de meus pais muitas explicações sobre a mudança de interesses e necessidades fora do corpo físico, mas minha expectativa era maior agora do que naquela época.

O grupo era de trinta pessoas, dezessete homens e treze mulheres. Começou a chamada, chegou a
minha vez.


- Sou Patrícia, desencarnei aos dezenove anos por aneurisma cerebral, estou há seis meses na Colônia.


Amo tudo aqui e anseio por aprender.


No grupo, era a que tinha desencarnado mais recentemente e a mais nova em idade. O outro aluno que estava a menos tempo desencarnado estava há três anos nessa situação. A maioria estava há bastante tempo no plano espiritual e possuía muitos anos de trabalho.


D. Isaura, senhora portadora de vastos conhecimentos sobre o mundo em que agora estávamos vivendo e que há muito tempo trabalha orientando neste curso, deu-nos, com olhar meigo e aspecto agradável, algumas explicações.


- Este curso é feito de três formas. Os jovens e as crianças maiores têm-no como parte do estudo do
Educandário.


Os adultos podem fazê-lo de dois modos. Os que não têm conhecimentos, fazem-no em período
maior: três anos.


Os que têm conhecimentos, fazem-no em nove meses, como é o caso de vocês aqui presentes.


Frederico e D. Isaura sentaram-se. Frederico era meu amigo e seria nosso instrutor. Fiquei alegre em
vê-lo e tê-lo por perto. Raimundo iria responder a algumas perguntas e, sorrindo, falou um pouco de si:


- Estou há sessenta anos no plano espiritual. Quinze anos administrando cursos. Em cada curso que
dou aprendo mais um pouquinho. Agora estou à disposição para as perguntas desta turma tão agradável.


Marcela foi a primeira a perguntar.


- Só conheceremos o plano espiritual através de cursos?


- Certamente que não. Muitos o conhecem pelo trabalho. Mas os cursos nos dão conhecimentos mais amplos e completos. - Após uma pausa, nosso mestre continuou de maneira terna: - Vocês vão gostar. Primeiramente, terão aulas teóricas sobre um determinado assunto, depois terão aulas práticas nas quais, em excursões, verão o que estudaram em sala de aula.


”Nessas excursões, não serão só espectadores, mas também atuarão. Trabalharemos onde quer que
estejamos.


Também visitaremos ambientes projetados e sustentados por espíritos ignorantes e conheceremos
ilhas de socorro mantidas por espíritos trabalhadores no bem. Retornaremos aqui para debates e apreciação nos quais todos darão opiniões e sugestões que serão estudadas e que poderão vir a ser utilizadas. 


As opiniões de todos serão importantes.”

Como ninguém perguntou mais nada, D. Isaura deu as explicações:


- Nas aulas, poderão vir vestidos como quiserem. 


Mas, nas excursões, usaremos uniforme. A veste é
importante; para nós é como uma apresentação. 


Encontrarão os uniformes nos alojamentos. Agora vamos conhecer o alojamento, os quartos destinados a vocês, onde estarão hospedados enquanto estiverem estudando aqui. Durante o curso, entre um assunto e outro, terão poucas horas livres. Serão nove meses sem folgas. Dentro de duas horas iniciaremos o curso, e o primeiro assunto serão as Colônias.

Aproveitem essas duas horas para se conhecerem melhor.

Grupinhos se formaram e os três instrutores saíram, eles também ficariam alojados em quartos iguais
aos nossos e junto com os estudantes.


- Oi, sou Nair. Não conheço ninguém aqui - disse, dirigindo-se a mim, uma senhora de agradável
aspecto. - Vim de outra Colônia para este curso.


- Prazer em conhecê-la, Nair. Que tal irmos ver o alojamento juntas?


Sorri, incentivando-a. Também não conhecia ninguém, mas iria conhecer e sentia que gostaria de
todos. Nair viera de uma Colônia pequena. Queria, como todos, aprender. Saímos da sala e logo depois
estavam os quartos: eram trinta, seguidos. Na porta havia uma plaqueta com o nome de cada participante.


Entrei no meu para deixar meus poucos pertences. Emocionei-me, o quarto era lindo. Ali ficaria muitas horas nos nove meses seguintes. Gosto muito de ter um local para orar, meditar, ficar sozinha pensando, para que os conhecimentos adquiridos proporcionem ambiente para minha compreensão espiritual, o que me é fundamental. O quarto era ideal, pintado de amarelo-claro, com cortinas de renda na janela, que dava vista para um jardim todo florido. Estava mobiliado com armário, cama, sofá e uma escrivaninha.


Enfeitavam-no lindos abajures e um quadro maravilhoso: uma paisagem com montanha e lago. O banheiro era pequeno, tudo lindo e confortável. Coloquei na escrivaninha as fotos de minha família que trouxera, juntamente com objetos que uso para escrever e estudar. Olhei demoradamente para as fotos; amo os meus familiares e tê-los à vista é muito agradável.

Parecia que todos eles me saudavam com carinho e incentivo. Meu pai parecia dizer: ”Orgulho-me de você, filha, conhecer, aprender, é ter sempre novas oportunidades”.

Minha família é minha alegria, juntos participamos da harmonia com o Criador. Guardei as poucas roupas no armário. O uniforme estava dependurado. Eram calças compridas azul-claras, uma camisa azul estampadinha, tendo no bolso meu nome bordado.

A camisa dos homens era azul, da cor da calça. Os calçados eram tênis ou sapatos azuis. Confortável e prático, gostei muito.

Depois que olhei tudo, saí alegre para o pátio. A turma conversava animada. Estávamos todos juntos. Entrosei-me.

Gostei deles. Ao faltar quinze minutos para começar o curso, todos entramos em nossos quartos para ficarmos um pouco a sós.

É difícil descrever o que senti, pois sempre amei estudar, sempre ansiei por aprender. Ali estava para
meu primeiro aprendizado em curso intensivo.


Sabia muito por livros espíritas como era o plano espiritual, mas, agora, estava desencarnada e veria por mim mesma. Orei e agradeci. Só tinha que agradecer pela oportunidade.

Ao ouvir uma suave campainha, fui para a sala de aula. Raimundo foi quem nos recepcionou:


- Meus amigos, vamos fazer uma oração pedindo ao Mestre Jesus que seja nosso maior orientador
neste curso em que vamos tomar conhecimento do plano espiritual. Que nosso Irmão Maior esteja sempre conosco e que possamos aprender, ajudar, por toda sua duração. Pai Nosso...


Com um sorriso agradável deu sua primeira aula.

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