terça-feira, 12 de setembro de 2017

Prefácio
Desde remotas épocas, a história da humanidade nos traz notícias basicamente de dois tipos
característicos de homens: os heróis ou santos, e os maldosos ou trevosos, ambos com os seus conseqüentes
prêmios ou castigos.


Os relatores não nos dizem o que acontece com os milhões de homens que vêm, vivem, passam pela
Terra e não deixam marcas. Homens cujas vidas se diluíram em meio à vida das multidões. Homens que, com seu trabalho e dedicação, deram aos heróis condições de realizar seus grandes feitos.


Homens que vieram e viveram pressionados pela sociedade ou foram praticamente escravizados pelos mais sagazes.

Durante estes milhões de anos, a raça humana ainda não exercitou o bem viver, com exceção de uns poucos.


Neste livro, temos na personagem central uma pessoa que bem viveu, quando na sua estada no mundo físico.


Muito embora tenha sido uma pessoa comum, sua vida fraterna foi a causa de uma passagem suave e
tranqüila ao mundo astral, mesmo porque não poderia ser de outra forma. Os leitores terão a oportunidade da confirmação dos encantamentos da vida, acompanhando a personagem, mesmo não sendo esta nem heroína nem santa.


Verão a beleza e a harmonia de viver, quando o homem espontaneamente vai ao encontro da
integração cósmica. A vida concede ao seu filho vitalidade, alegria e o amor não contaminados pelas paixões mundanas.


À personagem central, o afeto e carinho daquele que por um período não muito longo foi seu pai.


José Carlos Braghini


São Sebastião do Paraíso, MG – 1993
Capítulo 1 - Novos Amigos 

Saturada de entusiasmo e alegria, não dessa euforia passageira que ocasionalmente nos acontece no
mundo, mas de um estado permanente que envolve de beleza todas as coisas que vemos e tocamos, com esse estado de espírito apresentei-me ao departamento da escola a que fora destinada. Entrei sozinha, atravessei o pátio e caminhei para o setor onde iria conhecer as orientações do curso que iniciaria. O pouco que sabia desse curso deixara-me ansiosa por fazê-lo. 


Adentrei a sala onde iríamos ter a primeira reunião do grupo.

Passando pela porta da sala de aula, vi que muitos já haviam chegado e fui cumprimentada por todos.


Cumprimentos acompanhados de um sorriso franco e de lealdade, que eu tanto apreciava no relacionamento com meus colegas quando estava encarnada. A sala era grande e agradável. As carteiras ou mesinhas eram confortáveis e em cada uma havia uma placa com o nome do candidato.


Procurei a minha e sentei-me, aguardando. Logo, todos os alunos chegaram. Não conhecia ninguém, mas todos eram simpáticos, sentia-me entre amigos, não superficialmente, mas entre aquelas pessoas em quem podemos confiar nossas questões mais íntimas. Como é comum em todos os lugares em que a expectativa impera, grupinhos se formaram em sadia conversação.

- Atenção, por favor!


Os três orientadores entraram na sala. Sentamo-nos e ficamos em silêncio.


- Sou Raimundo.


- Sou Isaura.


- Sou Frederico.


Os três instrutores apresentaram-se e ficaram em pé, em frente do grupo. O instrutor Raimundo nos
explicou que iria fazer a chamada dos presentes para que todos se conhecessem e, se quiséssemos,
poderíamos falar alguma coisa a nosso respeito. 


Que esta atitude abreviaria o conhecimento uns dos outros, tornando-nos uma família. Sentia-me cheia de vida e emoção, voltara a fazer o que tanto gostava: estudar e conhecer outras atividades nesta nova maneira de viver. No lar terreno, havia escutado de meus pais muitas explicações sobre a mudança de interesses e necessidades fora do corpo físico, mas minha expectativa era maior agora do que naquela época.

O grupo era de trinta pessoas, dezessete homens e treze mulheres. Começou a chamada, chegou a
minha vez.


- Sou Patrícia, desencarnei aos dezenove anos por aneurisma cerebral, estou há seis meses na Colônia.


Amo tudo aqui e anseio por aprender.


No grupo, era a que tinha desencarnado mais recentemente e a mais nova em idade. O outro aluno que estava a menos tempo desencarnado estava há três anos nessa situação. A maioria estava há bastante tempo no plano espiritual e possuía muitos anos de trabalho.


D. Isaura, senhora portadora de vastos conhecimentos sobre o mundo em que agora estávamos vivendo e que há muito tempo trabalha orientando neste curso, deu-nos, com olhar meigo e aspecto agradável, algumas explicações.


- Este curso é feito de três formas. Os jovens e as crianças maiores têm-no como parte do estudo do
Educandário.


Os adultos podem fazê-lo de dois modos. Os que não têm conhecimentos, fazem-no em período
maior: três anos.


Os que têm conhecimentos, fazem-no em nove meses, como é o caso de vocês aqui presentes.


Frederico e D. Isaura sentaram-se. Frederico era meu amigo e seria nosso instrutor. Fiquei alegre em
vê-lo e tê-lo por perto. Raimundo iria responder a algumas perguntas e, sorrindo, falou um pouco de si:


- Estou há sessenta anos no plano espiritual. Quinze anos administrando cursos. Em cada curso que
dou aprendo mais um pouquinho. Agora estou à disposição para as perguntas desta turma tão agradável.


Marcela foi a primeira a perguntar.


- Só conheceremos o plano espiritual através de cursos?


- Certamente que não. Muitos o conhecem pelo trabalho. Mas os cursos nos dão conhecimentos mais amplos e completos. - Após uma pausa, nosso mestre continuou de maneira terna: - Vocês vão gostar. Primeiramente, terão aulas teóricas sobre um determinado assunto, depois terão aulas práticas nas quais, em excursões, verão o que estudaram em sala de aula.


”Nessas excursões, não serão só espectadores, mas também atuarão. Trabalharemos onde quer que
estejamos.


Também visitaremos ambientes projetados e sustentados por espíritos ignorantes e conheceremos
ilhas de socorro mantidas por espíritos trabalhadores no bem. Retornaremos aqui para debates e apreciação nos quais todos darão opiniões e sugestões que serão estudadas e que poderão vir a ser utilizadas. 


As opiniões de todos serão importantes.”

Como ninguém perguntou mais nada, D. Isaura deu as explicações:


- Nas aulas, poderão vir vestidos como quiserem. 


Mas, nas excursões, usaremos uniforme. A veste é
importante; para nós é como uma apresentação. 


Encontrarão os uniformes nos alojamentos. Agora vamos conhecer o alojamento, os quartos destinados a vocês, onde estarão hospedados enquanto estiverem estudando aqui. Durante o curso, entre um assunto e outro, terão poucas horas livres. Serão nove meses sem folgas. Dentro de duas horas iniciaremos o curso, e o primeiro assunto serão as Colônias.

Aproveitem essas duas horas para se conhecerem melhor.

Grupinhos se formaram e os três instrutores saíram, eles também ficariam alojados em quartos iguais
aos nossos e junto com os estudantes.


- Oi, sou Nair. Não conheço ninguém aqui - disse, dirigindo-se a mim, uma senhora de agradável
aspecto. - Vim de outra Colônia para este curso.


- Prazer em conhecê-la, Nair. Que tal irmos ver o alojamento juntas?


Sorri, incentivando-a. Também não conhecia ninguém, mas iria conhecer e sentia que gostaria de
todos. Nair viera de uma Colônia pequena. Queria, como todos, aprender. Saímos da sala e logo depois
estavam os quartos: eram trinta, seguidos. Na porta havia uma plaqueta com o nome de cada participante.


Entrei no meu para deixar meus poucos pertences. Emocionei-me, o quarto era lindo. Ali ficaria muitas horas nos nove meses seguintes. Gosto muito de ter um local para orar, meditar, ficar sozinha pensando, para que os conhecimentos adquiridos proporcionem ambiente para minha compreensão espiritual, o que me é fundamental. O quarto era ideal, pintado de amarelo-claro, com cortinas de renda na janela, que dava vista para um jardim todo florido. Estava mobiliado com armário, cama, sofá e uma escrivaninha.


Enfeitavam-no lindos abajures e um quadro maravilhoso: uma paisagem com montanha e lago. O banheiro era pequeno, tudo lindo e confortável. Coloquei na escrivaninha as fotos de minha família que trouxera, juntamente com objetos que uso para escrever e estudar. Olhei demoradamente para as fotos; amo os meus familiares e tê-los à vista é muito agradável.

Parecia que todos eles me saudavam com carinho e incentivo. Meu pai parecia dizer: ”Orgulho-me de você, filha, conhecer, aprender, é ter sempre novas oportunidades”.

Minha família é minha alegria, juntos participamos da harmonia com o Criador. Guardei as poucas roupas no armário. O uniforme estava dependurado. Eram calças compridas azul-claras, uma camisa azul estampadinha, tendo no bolso meu nome bordado.

A camisa dos homens era azul, da cor da calça. Os calçados eram tênis ou sapatos azuis. Confortável e prático, gostei muito.

Depois que olhei tudo, saí alegre para o pátio. A turma conversava animada. Estávamos todos juntos. Entrosei-me.

Gostei deles. Ao faltar quinze minutos para começar o curso, todos entramos em nossos quartos para ficarmos um pouco a sós.

É difícil descrever o que senti, pois sempre amei estudar, sempre ansiei por aprender. Ali estava para
meu primeiro aprendizado em curso intensivo.


Sabia muito por livros espíritas como era o plano espiritual, mas, agora, estava desencarnada e veria por mim mesma. Orei e agradeci. Só tinha que agradecer pela oportunidade.

Ao ouvir uma suave campainha, fui para a sala de aula. Raimundo foi quem nos recepcionou:


- Meus amigos, vamos fazer uma oração pedindo ao Mestre Jesus que seja nosso maior orientador
neste curso em que vamos tomar conhecimento do plano espiritual. Que nosso Irmão Maior esteja sempre conosco e que possamos aprender, ajudar, por toda sua duração. Pai Nosso...


Com um sorriso agradável deu sua primeira aula.
Capítulo 2 - Colônias
O instrutor Raimundo iniciou sua explanação colocando-nos a par da existência, por toda a Terra, de
Colônias Espirituais. São inúmeras pelo Brasil. Colônias são cidades no plano espiritual que abrigam temporariamente os desencarnados, espíritos que estão no rol das reencarnações.


São encantadoras! Em todos os locais em que há as cidades materiais há um espaço espiritual e nele
ficam os Postos de Socorro e as Colônias. Pequenas localidades de encarnados, como vilas e cidadezinhas, também têm seu espaço espiritual, só que às vezes não têm Colônias e seus habitantes, ao desencarnar e se tiverem condições, vão para as Colônias vizinhas.


As Colônias podem ser pequenas, médias, grandes e de estudos.


As Colônias de Estudo são somente uma escola ou universidade. Nelas há alojamentos para os
professores e para os alunos, salas de aula, bibliotecas e imensas salas de vídeo. São locais que estudiosos sonham em conhecer e morar.


As outras Colônias têm as bases iguais, são fechadas, há portões, sistemas de defesa, grandes
hospitais, escolas, jardins, praças, locais para reuniões e palestras, e a governadoria. Não são iguais e nem poderiam ser. São todas belas, oferecendo muitos atrativos.


Vimos filmes sobre Colônias, primeiramente as muitas do Brasil, depois as principais do exterior. A
índia e o Tibete têm Colônias encantadoras, de uma arquitetura diferente, em que usam muito a cor dourado-clara. 


São belíssimas.

A aula teórica foi realmente interessante. 


Perguntou-se muito, e os instrutores respondiam com prazer.

- Quem fundou as Colônias? - Quis saber Marcela.


- Cada Colônia tem seus fundadores. São grupos de espíritos construtores que vieram para o Brasil
com os imigrantes. Assim como foram formadas as cidades na Terra, foram fundadas também as Colônias.


Há Colônias no Oriente, com milhares de anos. Vivemos em grupos, os mais adiantados ajudando os mais atrasados, sempre perto uns dos outros. Por isso cada cidade na Terra tem seu núcleo espiritual
correspondente.


- Antes de o Brasil ser colonizado não havia Colônias? Perguntou Luís.


- Não como estas. Havia, sim, núcleos espirituais, nos quais os orientadores do Brasil já planejavam a
colonização, protegiam e orientavam seus habitantes, os índios.


- Um espírito pode entrar numa Colônia, tentando enganar?


- Indagou Luíza.


- Nunca soubemos de um acontecimento deste tipo. Ele entraria para fazer o quê? Ele próprio se
sentiria mal por não estar no seu meio. Se quisesse espionar, o que veria não poderia copiar. Não conseguiria enganar, pois sua maneira de viver difere da nossa.


Quase todas as Colônias, as cidades espirituais, estão situadas a uma certa distância vibratória do orbe terrestre e, não comparando com as medidas físicas, ficam dentro da quarta dimensão vibratória, a partir da nossa querida Terra.

- Se uma cidade material fosse destruída, a Colônia também acabaria naquele espaço? - Ivo
perguntou, curioso.


- Não acabaria. Se a cidade dos encarnados não fosse reconstruída, a Colônia mudaria para outro
local.


- As Colônias também crescem? - Glória indagou.


- Sim, dependendo de suas necessidades, são ampliadas.


- Prevendo um acontecimento desastroso na cidade material, as Colônias se preparam para receber os
abrigados?


James indagou.


- Certamente, como também os Postos de Socorro da região. Mas, para não provocar pânico e
preocupação entre seus habitantes, esse preparo é feito horas antes.


Começou a aula prática. Fomos primeiramente excursionar em nossa Colônia, que eu já conhecia’.


Mas foi, como sempre, emocionante passear por lá.


Uma festa para meus olhos e meu espírito. E agora, com o primeiro grupo de colegas de estudo, as maravilhas que conhecia pareciam se renovar aos meus olhos. Tal qual a mãe que não se cansa de olhar e admirar o seu rebento amado. O grupo alegre inteirava-se de tudo, vimos as praças, os jardins e prédios, conversamos agradavelmente com o responsável pela Colônia, seu governador, que nos incentivou com palavras amáveis. Ao visitar o hospital, conversamos com os doentes, tentando passar-lhes a alegria que sentíamos.

Ajudamos na limpeza e na alimentação dos pacientes.

As Colônias têm um perfeito intercâmbio umas com as outras e com os Postos de Socorro a elas
subordinados.


Frederico nos explicou:


- Agora, vão conhecer a Escola de Regeneração.


São poucas as Colônias que têm essas escolas.

Destinam-se aos irmãos trevosos, para se recuperarem. É preciso esclarecer que há uma grande diferença entre espíritos trevosos e espíritos necessitados. Em nossos Centros Espíritas normalmente se socorrem espíritos necessitados ou ignorantes. Trevosos muito pouco vão à Terra, não se interessam pelos encarnados por achá-los ignorantes e inúteis, certamente há algumas ressalvas. Esses irmãos dedicam-se quase sempre a reinar em seus domínios no Umbral. Há poucos Centros que se dedicam a doutrinar essa classe de espíritos, pois eles dão muito trabalho. Eles se realizam no mal e é no mal que querem viver; desprezam qualquer atitude fraterna, cultivando o egoísmo.


Dominam e são dominados, não há liberdade.


Nesses domínios há os julgadores e os vingadores em nome de Deus. Esta escola foi fundada para receber esses irmãos.

A Escola de Regeneração é muito bonita e fica dentro da Colônia São Sebastião (Em meu primeiro
livro, Violetas na janela, descrevi bem a Colônia onde estou e, de modo geral, todas as Colônias.


Neste livro, para não ser repetitiva, descrevo-as superficialmente.- Nota da Autora Espiritual). É cercada, e só é possível entrar e sair por um portão.

Nela, estão localizadas as salas de aula, os alojamentos, tanto para os professores como para os alunos uma biblioteca bem equipada, uma sala de vídeo pequena onde há televisão e filmes sobre diversos assuntos.

Há o refeitório, sala de palestras, salas de assistências, uma enfermaria e a diretoria. Nos fundos, um pomar e plantações de cereais, local ocupado para terapia dos alunos. No centro, um lindo jardim com muitas flores e bancos.


Os professores, além de serem bons, no sentido fraternal, têm profundos conhecimentos para lidar
com os irmãos que lá são abrigados.


O curso é intensivo, com aulas de moral Cristã, alfabetizaÇão e educação. Os alunos usam uniforme e só saem da escola após terminado o curso; nem às outras partes da Colônia vão. Ao concluí-lo, escolhem uma ocupação ou reencarnam. E um lindo trabalho e tem dado excelentes resultados. Infelizmente, para esses irmãos há muito tempo no erro e nas trevas, e necessário um local apropriado para que recebam orientação de modo especial.


Conversamos com alguns alunos que há algum tempo estavam na escola, todos se mostravam
contentes; disseram amar a escola e os professores e que estavam aproveitando bem as aulas que recebiam.


É um grande trabalho de regeneração!


Fomos excursionar em outras Colônias. Viajamos de aerobus. Visitamos uma Colônia média em
tamanho. A Colônia do espaço espiritual da cidade de Ribeirão Preto. É linda! Muito florida e sua biblioteca é enorme. Foi maravilhoso visitar esse local de pesquisa que é sua biblioteca, encantei-me com seus livros antigos e com os vídeos da formação da Terra.


Possui três hospitais grandes e muitas praças. A parte infantil, o Lar da Criança, é muito ampla e bonita.

Na aula teórica, havíamos pedido para visitar a Colônia Nosso Lar.


- Meu sonho - disse Luís, entusiasmado - é, desde encarnado, conhecer a Colônia Nosso Lar e, se
possível, ver André Luiz.


Chegou o tão esperado dia, fomos visitar a Colônia Nosso Lar, no espaço espiritual da cidade do Rio
de Janeiro.


Acho que quase todos os espíritas sonham em conhecer essa Colônia, a primeira a ser descrita pela psicografia aos encarnados. Fomos muito bem recebidos. Ficamos hospedados por dois dias em uma de suas escolas. Conhecemos todos os seus mais importantes parques e bosques. Realmente, Nosso Lar é magnífica! Emocionei-me ao ver tantas belezas. No segundo dia, à tarde, tivemos a grata alegria de conhecer o escritor André Luiz. 


Reunimo-nos em um dos seus salões para palestras.

Há vários nessa Colônia. O salão é redondo, o palco tem a forma de meia-lua, as poltronas também são arredondadas. O salão todo tem várias tonalidades de amarelo. Muito bonito e diferente. 

O auditório lotou, vários grupos em excursão estavam ali com a mesma finalidade. Disseram-nos que André Luiz, sempre que possível, atende a pedidos como este, de excursões de alunos que querem conhecê-lo. Luís não conseguiu parar de sorrir.

- Que ventura! Realizo meu sonho! Sou fã desse escritor desde encarnado!


André Luiz apresentou-se com simplicidade e naturalidade. É como certas pessoas que olhamos e
achamos super agradáveis. Cumprimentou-nos, sorrindo.


Pensei que fosse diferente! - Exclamou Ivo. - É tão simples que nem parece ser tão conhecido por
todas as Colônias do Brasil e por todos os espíritas!


D. Isaura olhou para Ivo, pedindo silêncio. André Luiz falou, com voz forte e tranqüila, que era
somente um simples estudante em fase mais adiantada e que somente ficou conhecido por ter tido a oportunidade de ditar os livros que foram psicografados, descrevendo o plano espiritual.


Que para ele o mais importante era que todos os que ali estavam, querendo estudar, aprendessem a
serem úteis com sabedoria. Em seguida, fez uma linda oração. Durou a reunião vinte minutos.


Admiradora da dupla André Luiz e Chico Xavier, foi um prêmio escutá-lo e vê-lo.

Passamos por uma das Colônias da cidade de São Paulo. Ao todo são três grandes. Encantamo-nos
com seu tamanho. E como tudo é bem dividido! 


Passamos também por Brasília. Colônia nova, bem
distribuída, moderna e maravilhosa. É uma das mais belas Colônias do Brasil. Suas praças e jardins são
fabulosos e há muitas flores do plano superior perfumando o ar, encantando a todos.


No roteiro de nossas Visitas constavam duas Colônias de Estudo. Agora era minha vez de ficar
radiante, pois essas Colônias exercem sobre mim delicioso fascínio. São somente para estudos e oferecem meios espetaculares de passar conhecimentos aos seus alunos.


- Ei, Patrícia - falou Nair -, aposto que você logo que possível irá para uma Colônia de Estudos.


- Sim - respondi sorrindo e sonhando -, se for possível irei estudar em uma!


As Colônias são realmente maravilhosas. Por mais que procuremos descrevê-las, não conseguimos
transmitir a beleza que vemos. Também cada descrição é narrada por alguém que, por afinidade, fala do que mais gosta.


Murilo, um colega amante da natureza, ama a Botânica, disse que, se tivesse oportunidade, narraria as belezas e variedades das plantas e flores.


Talvez eu tenha mais facilidade para descrever locais de estudo.

Amo aprender.


Voltamos entusiasmados à sala de aula, repletos de ânimo e disposição. As opiniões foram calorosas.


Não houve sugestões, mudar o quê? Tudo era perfeito!


Foi sugerido que cada um comentasse o que viu e sentiu na excursão. Na oportunidade, falei
encantada das salas de vídeo, que já descrevi no livro Violetas na janela, da Colônia de Estudos. 


Seus assuntos são completos. Vê-las e fazer uso dessas salas é sonho de qualquer aprendiz. As Colônias de Estudos têm nomes bonitos e sugestivos. Também falei entusiasmada da oportunidade que tive de conhecer uma sociedade perfeita, regida pelo amor e pela fraternidade.

- Bem, todos gostaram, isto é bom, porque nos próximos assuntos não verão somente maravilhas. 


E o trabalho fará parte das excursões seguintes - falou D. Isaura carinhosamente.
Capítulo 3 - Abrigo Caridade E Luz

Postos de Socorro - disse Raimundo - são locais em que os espíritos socorridos têm permanência transitória, são amparados e orientados, têm liberdade de escolher o caminho a seguir. Se adaptados à nova vida e despertos a crescer, vão estudar nas Colônias de que necessitam. Se ficam inconformados e revoltados, retornam ao lugar de onde vieram. Esses Postos também são chamados de casas, mansões, abrigos, Colônias etc. São locais menores de socorro na crosta e no Umbral. Podem ser grandes, médios ou pequenos. 

Não são cidades, embora haja algumas que têm todas as repartições de uma.

- Têm também quem os administre? - Quis saber Ilda.


- Certamente. Nos Postos, reina a harmonia e a disciplina. Há uma pessoa responsável e um grupo de orientadores que auxiliam nessa administração.


- As casas transitórias, ou rotatórias, ou giratórias, são Postos de Socorro? - Indagou Luís.


- Sim, esses abrigos localizados dentro do Umbral locomovem-se, conforme as necessidades, para
outros locais dentro do próprio Umbral. São Postos de Socorro.


- Que são realmente os Postos de Socorro? 


- Indagou Luíza.

- São abrigos temporários, onde ficam hospedados os irmãos necessitados e onde eles são tratados
com todo carinho em suas enfermidades e necessidades. Depois, esses irmãos são conduzidos às Colônias.


Porém muitos deles ficam, quando sadios, nos Postos servindo à comunidade que os abrigou.


Indagamos muito, vimos filmes diversos sobre Postos de Socorro. Chegou a hora de visitá-los.


Frederico nos apresentou um chinês chamado In-AI-Chin. Este é um amigo que nos acompanhará
todas as vezes que sairmos em excursões.


Ficamos quietos, mas as indagações ferviam em nossos cérebros; Zé não agüentou e perguntou:


-Por quê? Há algum motivo para termos tão agradável companhia?


O chinês sorriu suavemente, e Frederico respondeu:


- Nunca houve nessas excursões de estudo um acidente desagradável. Tem razão, Zé, há um motivo para este companheiro estar conosco, Temos em nosso meio Patrícia, que, quando encarnada, foi Espírita, e seu pai é um doutrinador, dirigente de um Centro Espírita. Como todo aquele que acende a Luz incomoda os irmãos ignorantes das trevas, por cautela, In-AI-Chin nos acompanhará. Nosso amigo trabalha na equipe de desencarnados deste Centro Espírita, é muito experiente. Nutre muito carinho por Patrícia e trabalhou espiritualmente ao lado dela, quando estava encarnada. Querendo vê-la sempre bem, fará companhia a ela e a nós todos nas excursões que serão para Patrícia as primeiras.


A mãe de Patrícia teme represálias a ela pelo trabalho que seu pai faz; ela pediu e, para tranqüilizá-la, foi atendida por este amigo que fará parte de nossa equipe.

Pensei: ”Tomara que não fique como minha ama-seca”. In-AI-Chin sorriu de forma encantadora e
disse:


- Espero não ser importuno. Meu objetivo é ajudar e aprender. Embora tenha vindo para estar perto de
Flor Azul de Patrícia, quero ser amigo de todos.


Fiquei vermelha. A turma gostou da idéia dele. 


Rodearam-no. In-AI-Chin é sereno, doce, estatura
média, veste uma túnica clara e um gorro. Muitos espíritos gostam de continuar vestindo-se como faziam quando encarnados. Nunca vi um espírito esclarecido com roupas extravagantes. São simples, vestem-se como gostam. Espíritos orientais vestem-se normalmente com túnicas, ou seja, como se vestiam quando encarnados. É como gostam de estar. In-AI-Chin sorri sempre, demonstrando muita tranqüilidade e felicidade. Dirigia-se a mim só como Flor Azul de Patrícia. E Zé indagou:


- Por que a chama de Flor Azul de Patrícia?


- Porque tem os olhos mais azuis que já vi, também porque são doces e tranqüilos, como duas flores a
enfeitar quem a olha. Como seu nome é de difícil pronúncia e como só se dirigia a mim assim, nós o
apelidamos de Flor Azul, cognome que o deixou contente. Ele disse:


- Nada mais bonito que ser comparado com uma flor!


O primeiro Posto que visitamos fica no Umbral mais ameno. Fomos de aerobus. Vimos pedaços do
Umbral, que descreverei quando formos visitá-lo. O que sabia dos Postos e o que vi na aula teórica deixaram-me curiosa em saber como é esta parte do plano espiritual. Um portão grande e pesado foi aberto, entramos. D. Isaura exclamou, comovida:


- Estamos no Abrigo Caridade e Luz!


O aerobus parou no pátio, descemos. O abrigo parece um ponto de luz, de claridade, na neblina escura do Umbral. É um ponto de amor! O Posto tem forma arredondada, no centro há uma praça com um lindo chafariz. Possui muitas árvores e flores parecidas com as que existem na Terra. Na entrada, logo depois do portão, vemos canteiros de rosas coloridas muito bonitas. Por todo o Posto há vasos grandes com florezinhas perfumadas e delicadas, vermelhas. Lindas!


E cercado por altos e fortes muros e tem um excelente sistema de defesa. Nair, vendo tudo, exclamou:


- Este Posto deve incomodar. Não pode ser bem visto por aqui. Raimundo sorriu e nos esclareceu:


- Nós, os que caminhamos no bem, não atacamos irmão nenhum, nem suas cidades ou abrigos. Os
ignorantes trevosos nos atacam e, se pudessem, destruiriam este abrigo e todos os Postos de Socorro. Sim, incomodamos. A maioria dos moradores do Umbral não quer socorro por aqui.


A diretora do abrigo veio nos receber com muito carinho. Conversávamos contentes, quando se
aproximou de mim um trabalhador do Posto.


- Você é Patrícia, a filha do Senhor José Carlos?
- Sou.


Sem que eu esperasse, tomou minha mão, beijou-a e me entregou um buquê de flores.


- Muito devo a seu pai. Agradeço a ele por seu intermédio. Obrigado! Pensei em ajudá-la, mas como não necessita de ajuda aceite este presente.


Fiquei sem jeito, e por momentos não soube o que fazer. Todos observavam a cena. Rápido pensei no
que meu pai faria diante deste acontecimento. Sorri e o abracei.


- Que bom ver amigos aqui! Como está o senhor?


- Agora bem, graças a Deus. Trabalho aqui - disse com orgulho -, isto devo a Deus e a seu pai. Fui
socorrido e orientado por ele.


- Alegro-me em saber.


O senhor ficou emocionado, enxugou as lágrimas e se afastou. D. Isaura aproximou-se e disse:


- Não se acanhe, Patrícia. É comovente ver pessoas gratas. Quem faz, para si faz. Seu pai o ajudou
sem esperar recompensa. Mas ele, esse trabalhador, aprendeu bem e é grato. Ficou feliz em vê-la e em poder agradecer. Agiu certo, filha, devemos ser gratos e receber com carinho as gratidões!


Um trabalhador mostrou-nos o alojamento. Iríamos ficar hospedados por três dias e não sairíamos do
Posto.


Acomodaram dois em cada quarto. Fiquei com Nair. Esta amiga é curiosa e observadora, revirou o
quarto.


- Esta cama é sua, esta é minha. Será que iremos dormir mesmo?


- Como nos foi dito, aqui talvez necessitemos de descanso, porque neste trabalho doa-se muita
energia.


O quarto era simples, sem enfeites, com a janela dando para o pátio e possuía banheiro, pois às vezes, quando nos alimentávamos, tínhamos necessidade de usá-lo.


Fomos chamados para conhecer a parte externa do abrigo. É todo pintado de branco, suas janelas têm
formato das janelas antigas, são grandes e trabalhadas. No Umbral, fora do abrigo, a temperatura estava fria; no Posto estava amena, agradável. Há um sistema parecido com um aquecedor central que controla a temperatura ambiente, isto para que seus abrigados não sintam frio ou calor. Nós não sentimos as mudanças da temperatura, porque aprendemos a nos controlar.


Para os que sabem, a temperatura está sempre amena.

Andando pelo Posto, parece que estamos dentro de uma grande construção com seus prédios separados por pequenos pátios. Fomos à torre da guarda. 


Leonel, um rapaz que estava no controle, mostrou-nos tudo.

O sistema é perfeito.

Pelos aparelhos da torre eles sabem quem se aproxima do Posto. Tudo é televisionado, Da torre
controla-se todo o sistema de defesa.


- O abrigo recebe muitos ataques? - Indaguei.


- Uma média de três por mês - Leonel respondeu atencioso. - Já ficou com medo de algum? 


- Perguntou Zé.

- Há seis meses, reuniram-se em um grupo grande do Umbral e nos atacaram com força total.


Cercaram-nos e tivemos que colocar todos os nossos lança-raios em ação. O pessoal do abrigo concentrou-se em oração. Receei por momentos e achei que teríamos que pedir auxílio a outros Postos. Mas tudo deu certo, não conseguiram nem se aproximar muito do abrigo.


- Você fica aqui o tempo todo? - Quis saber Luíza.


- Fazemos horário de rodízio. Amo esta torre,
- Tudo aqui parece complicado - disse Luís.


- Não, tudo é simples, embora perfeito.


Há uma tela, parecida com televisão, que mostra todo o muro.


- Aqui - mostrou Leonel -, por este aparelho vejo quem se aproxima do abrigo, a três quilômetros.


- Que faz quando está sendo atacado? - Indagou Glória.


- Primeiro dou o alerta ao abrigo, depois coloco em funcionamento os aparelhos de defesa que atiram
cargas elétricas.


- E isto? Que tem aqui? - Perguntou Luís, mostrando alguns objetos pequenos diante de uma televisão ligada à imagem de um senhor lendo o Evangelho.


- Isto é espionagem - Leonel respondeu sorrindo. 


- Alguns irmãos trevosos, curiosos para saber o que
se passa e como é aqui, colocam em irmãos que serão socorridos estes aparelhos de escuta, como botões, anéis, cintos, amuletos etc. Observem bem.


Observamos sem pegar.


Que incrível! - Exclamou Glória.


Apreendemos estes apetrechos e os colocamos na frente desta televisão. Está sintonizada num canal
em que se lêem os Evangelhos diariamente. Os escutas ouvirão um pouco do que tem o livro e verão somente o que se passa na televisão. 


Conhecia este canal, é de uma esfera superior onde lêem e explicam o Evangelho; é bastante visto por toda a Colônia. Mas as perguntas continuaram. Cida indagou:

- Não é possível ficarem alguns destes aparelhos nos socorridos?


- Não, porque eles trocam de roupas e são banhados aqui, mas, se ficar, nada verão que possa
interessá-los.


Saí da torre muito confiante. No pátio, dividimos o grupo em três partes com dez componentes mais
um instrutor e fomos às enfermarias. Visitamos os abrigados já melhorando. Pensei comigo: ”Estão tão ruins que nem posso imaginar os piores”.


Homens e mulheres pareciam fantasmas de filme de terror. Apiedamo-nos. Magros, olhos saltados e
gemendo.


Seus ais eram de cortar o coração.


Tentei ficar alegre ao me aproximar deles. Pensei que, ao observá-los bem, iria ler seus pensamentos,
como havia lido nos livros de André Luiz, quando encarnada. Não consegui nada, e perguntei o porquê a Frederico, - Patrícia - ele me respondeu -, isto é para quem sabe, quem trabalhou anos com irmãos neste estado. Logo mais terão aulas no curso e aprenderão um pouco sobre o assunto.


Alimentamos e limpamos os abrigados.


Conversamos com eles, alguns respondiam, explicavam como estavam, uns falavam de suas desencarnações.

Normalmente gostam de falar de si, de queixar-se.

Um senhor tristonho disse que fora alegre mas imprudente, cometeu erros, sofreu muito ao desencarnar e ficou triste.

Dávamos passes, orávamos para cada um que visitávamos. A maioria parecia alheia; os nervosos se acalmavam depois do passe.


Alguns não entendiam nada do que viam e indagavam o que se passava, outros respondiam com monossílabos às indagações. Quando acabamos, estávamos cansados. Fomos para os quartos. Tomei banho e fomos para o salão de refeições, onde nos alimentamos com frutas e sucos.


Escurecia. Fomos convidados a ir ao salão de música. O local é muito bonito, com lindos quadros, vasos de flores, cadeiras confortáveis. Raimundo explicou:


- Nesta sala temos televisão, cinema, instrumentos musicais. É o local onde se reúnem os
trabalhadores e os convidados para edificantes palestras. Maria e Tobias, dois trabalhadores do Posto, nos brindaram com lindas melodias, ela ao piano, ele ao violino.


Marcela, nossa colega, cantou duas canções. 


Passamos horas agradáveis.

Todo o Posto é iluminado com luz artificial, e mesmo durante o dia há luzes acesas dentro dos
prédios, menos nos pátios que só têm as luzes acesas ao entardecer. À noite, o Posto é bem iluminado.


Saímos para o pátio. Vimos o céu quase como os encarnados, só que com mais neblina, a luz da lua é fraca.


O perfume das flores, principalmente das vermelhinhas, invade os pátios.


Fomos repousar, estava cansada e dormi por cinco horas. De madrugada fomos acordados, tomamos
uma refeição e visitamos o restante do Caridade e Luz.


- Oi, turma! - Disse Zé, que levantou atrasado. 


- Há tempo não durmo tanto.

- Quando desprendemos energias e não estamos acostumados, necessitamos repô-las - esclareceu D.
Isaura.


O Posto tem uma bonita e bem-arrumada biblioteca, que contém vasta literatura espírita. Os bons livros dos encarnados ali têm suas cópias. É bem freqüentada pelos trabalhadores e os abrigados em recuperação. 


Ao lado da biblioteca está a sala de orações. Lugar discreto e muito bonito, não é grande, mas aconchegante; também possui cadeiras confortáveis e vasos floridos. Ali os abrigados em recuperação vão orar. Os trabalhadores também gostam de freqüentar a sala.

É tranqüila, tem muitos fluidos energéticos. Sente-se muita paz lá dentro.


O amanhecer no Posto é bonito, o sol aparece entre as nuvens, clareando os pátios e jardins.


Fomos às enfermarias. Visitamos os irmãos, que dormiam em pesadelos. Ah, como a colheita é
obrigatória!


Vendo-os, enchemo-nos de compaixão, pois sabíamos que todos ali estavam daquele modo por
imprudência, por muitos erros. Passamos horas nas enfermarias. Ver tantos irmãos em sofrimento me
entristeceu. Embora sabendo que nada é injusto, tivemos vontade de recuperar todos. Mas isso é impossível, pois a recuperação é lenta, ajudamos poucos.


Demos passes, acomodamos, demos água, fizemos círculos de orações. Só dois despertaram e foram levados para outra enfermaria. Acordam assustados, muitos temem e choram.

Estava cansada. Depois fomos para o quarto, onde tomei banho, alimentei-me, fiz exercícios de
respiração e relaxamento. Iríamos partir na manhã seguinte. A turma se reuniria à noite para ver um filme e ouvir uma palestra.


Pedi para descansar; foram muitos os da turma que também pediram. Aqueles irmãos sofridos não me
saíam do pensamento. Fiquei revendo tudo como num filme. Os instrutores permaneciam sempre conosco e eram os que mais trabalhavam, estavam sempre prontos a nos esclarecer sobre qualquer dúvida.


Flor Azul,,sempre tranqüilo, ajudava os enfermos com muito carinho. Depois de orar, Nair e eu fomos dormir.

Dormir desencarnada é como adormecer encarnada. Quando se está encarnado, o corpo descansa,
desencarnado é o perispírito que descansa, e refazemos as energias. Logo depois deste curso, nunca mais dormi. É ótimo ter muito tempo.


Acordei refeita. Partimos sem nos despedir, porque voltaríamos outras vezes e ali ficaríamos
hospedados, enquanto visitássemos os Postos da Terra. 


Fomos de aerobus até a crosta. Ver o sol sem neblina é bem mais agradável, respiramos aliviados.

Visitaríamos os Postos de Socorro existentes para os encarnados daquela região. Nas cidades da Terra há muitos Postos de Socorro pequenos, e assim também nos Centros Espíritas; esses Postos são verdadeiros pontos de amor e auxílio.


Visitamo-los por horas. Ajudamos, cuidando de seus enfermos e dos recém-desencarnados. A maioria dos recém-desencarnados socorridos fica nos Postos por algum tempo, depois ou eles são levados para serem doutrinados nas reuniões dos Centros Espíritas ou vão para outros locais e são transportados para Postos maiores ou Colônias.


Os que ficam, quase sempre passam de ajudados a ajudantes. Há sempre muitos trabalhadores e o
trabalho é imenso. O movimento é grande; o responsável pelo Posto fica só para atender as pessoas e os trabalhadores que têm problemas.


Principalmente os Postos dos Centros Espíritas estão sempre lotados. A maioria deles está localizada acima da construção material. Há sistema de defesa, porta ou portão, janelas com grades, enfermarias, sala de recepção, local de descanso para seus trabalhadores, às vezes, salas de música e pequenas bibliotecas.

Nair comentou comigo:


- Observe, Patrícia, que por onde passamos sempre há bons livros e muitos exemplares do Evangelho
e de O Evangelho Segundo o Espiritismo.


- Não se instrui quem não quer! - Respondi.


- Vocês sabem quantos cristãos, ou que se dizem cristãos, têm uma religião e não conhecem o
Evangelho? - Ivo nos indagou.


- Devem ser muitos; não conhecem e nem seguem, a notar pelos muitos socorridos - respondi.


- É pena! - Exclamou Ivo. - O Evangelho não ser lido e vivido! Estávamos num Posto, todos
atarefados, quando escutamos Cida gritar. Levei tamanho susto, que fiquei parada por segundos, depois corri também. Cida estava na sala da frente, a de curativos. Frederico veio tão depressa que trombou com Flor Azul.


- Calma, Cida! Que houve? - Indagou Frederico.


- Entrou um homem aqui, roubou um esparadrapo e saiu correndo!


- Ufa! - Frederico exclamou aliviado.


- Acho que gritei à toa - disse Cida, sem graça.


- À toa e escandalosamente, Cida - disse D. Isaura carinhosamente. - Não precisava fazer a gritaria.


- Peço-lhes desculpas - disse Cida.


- O irmão que pegou o esparadrapo não passará pelo portão, só se o porteiro deixar. E muitas vezes
deixam. Ele entrou aqui querendo objetos para fazer um curativo, às vezes nele ou em companheiros. Pela Terra, ao redor dos Postos, estão sempre muitos irmãos a vagar, ficam a vampirizar os encarnados.


Muitos vampirizam alcoólatras e se metem em brigas, Às vezes, vêm aqui para fazer curativos, mas sabem que escutarão algumas verdades que incomodam, assim, preferem nos roubar - explicou atenciosamente um atendente do Posto, que finalizou bem-humorado. 

- Espero que o susto tenha passado.

- Vocês recebem muitos ataques? - Ivo perguntou.


- Não muitos. São mais ataques de irmãos querendo se divertir, mas como nossos raios elétricos são
fortes e lhes dão a impressão de morte, dificilmente nos atacam.


Como esse homem entrou aqui? - Luíza indagou curiosa. É conhecido do porteiro e nosso. Pediu ao
porteiro que fosse atendido, e ele o deixou entrar e também sair, sem problemas. Os que vagam, em sua
maioria, costumam nos pedir coisas, como remédios e alimentos, e é raro nos furtarem. Este, hoje, resolveu fazê-lo.


José de Arimatéia, o nosso distraído Zé, exclamou alto:


- Já sei por que usamos uniformes! É para não sermos confundidos com os demais birutas!


O susto passou, voltamos às tarefas. Já era noite alta quando regressamos ao Caridade e Luz para o
merecido descanso. Dois dias fizemos essas visitas e descansamos no abrigo. Foram muito proveitosas as
excursões. Gostei muito desses postos de auxílio entre os encarnados. São realmente de muita ajuda, onde a caridade é verdadeiramente aplicada.
Capítulo 4 - Posto Vigília
De manhãzinha, saímos novamente, só que desta vez a pé. 

Andar pelo Umbral é estranho. Se a Colônia é uma festa aos meus olhos, o Umbral, com seu ambiente angustioso e depressivo, é para mim uma visão terrível e horripilante. Sabia que muitos espíritos vagavam por lá, e apiedei-me deles, como também sabia que muitos ali estavam por gostar, o que achei tremenda falta de gosto, mas temos todos o livre-arbítrio e cada um gosta de um lugar. Caminhamos horas em fila, todos juntos: 

D. Isaura na frente, Raimundo no meio e Frederico no Final; Flor Azul ao meu lado.

Não conversamos, íamos em silêncio. Tivemos
recomendações de não conversar, para não sermos notados. Caminhávamos cautelosos pisando em terreno mais firme, porque há muita lama. Vestimos capas de cor marrom, que vinham até os joelhos, com capuz, deixando somente o rosto de fora, e calçamos botas especiais. Luíza comentou, enquanto nos vestíamos:


- Por que nos vestimos assim para andar pelo Umbral? Parece tão estranho.


- Estamos somente nos protegendo - respondeu D. Isaura.


- Caso sejamos atacados, as capas nos protegerão. As botas são para dar segurança na caminhada.


Ao caminhar pelo Umbral, entendi o porquê de nos vestirmos assim.


O Umbral é sujo, tem partes escorregadias. As botas nos davam firmeza, e as capas, conforto.


Deslumbrada com o que via, ao dar por mim, muitas vezes estava com os olhos arregalados. 


Pensei:

”Se estivesse aqui sozinha, morreria de medo, se porventura isto fosse possível”. Em certo momento, uma grande ave voou perto de nós. Assustei-me e abafei um grito que ficou preso na garganta. Mas não fui só eu a levar o susto, Luíza e Nair aconchegaram-se a Flor Azul, que estava tranqüilo e nos olhava sorrindo. O resto do caminho fiquei bem perto dele. Fizemos o trajeto em perfeito silêncio e sem problemas.


A claridade é escassa, parecia o anoitecer entre os encarnados. Sem muita neblina ou nevoeiro. De
longe, o Posto parece somente um muro, não se vê nada dele por fora. Ao aproximarmo-nos mais, vimos o muro cinzento e o portão, parecido com um de madeira, pesado, trabalhado em relevo, bonito e simples.


D. Isaura fez soar a campainha e o pesado portão foi aberto. Entramos no pátio: era quadrado com
poucas flores, em alguns canteiros, a enfeitá-lo, rodeado de pequenas árvores sem muita beleza, parecidas com muitas que possuem os encarnados. 


Fomos recebidos pelo seu administrador, diretor ou responsável:

- Boa tarde! Sou Guilherme. Sejam bem-vindos ao Posto Vigília. Por favor, venham comigo,
mostrarei seus alojamentos, pois presumo que queiram descansar.


As Colônias e Postos de Socorro seguem o mesmo horário da Terra. Se na cidade dos encarnados
fossem quatorze horas, ali também era.


O Posto Vigília fica no Umbral, numa zona de muito sofrimento. É uma casa transitória ou rotatória, ou seja, muda de lugar. Joaquim, um dos nossos colegas, trabalhou ali por anos, e estava afastado para fazer o curso. Depois de concluí-lo, retornará a suas atividades. Foi recebido com alegria, abraçado pelos trabalhadores do Posto.


Percebemos que todos ali se amavam, formando uma grande família.


Luzes artificiais iluminam o Posto dia e noite. Do pátio, passamos à parte destinada aos hóspedes.


Ficamos, Luíza e eu, juntas no quarto, que era simples, sem enfeites, mas confortável. Após nos
higienizarmos, fomos ao refeitório, onde tomamos a refeição, composta de frutas e caldos. Reunimo-nos logo após no salão de palestras para conversarmos.


Recebemos explicações sobre o Posto Vigília.


- Este abrigo foi criado na mesma época em que se formou um povoado para os encarnados. Quando
o ambiente começa a ficar deveras pesado, vem a tempestade de fogo e mudamos de lugar - explicou
Guilherme.


- Queria ver uma! - Exclamou James.


- Não estamos esperando para já - continuou o administrador do Posto. - O fogo cai como raios
queimando tudo, purificando os fluidos pesados.


Todos fogem, e os que estão para ser socorridos recebem aqui o abrigo.

- Muda-se para longe? - Indaguei. - Não, sempre ficamos na região. Há casas como estas em outras Colônias, que chegam a mudar-se para locais vinte a cinqüenta quilômetros distantes. Nós normalmente nos mudamos para sete a dez quilômetros.


Faz tempo que trabalha aqui? - Perguntou Nair. Há trinta anos.


Puxa! - Exclamou Marcela. - Deve ter adquirido muita experiência. Como veio para o Posto?


Quando encarnado, fui pessoa boa, cumpridora dos meus deveres. Amava e amo os Evangelhos e
tudo fiz para seguir os exemplos de Jesus. 


Desencarnei e, ao ser socorrido, fui levado para uma Colônia.

Achei encantador tudo o que vi lá, mas amei este Posto logo que o visitei em uma excursão, como a que vocês estão fazendo agora.


Entendi que são poucos os que, como eu, são socorridos ao desencarnar e me apiedei ao ver tantos irmãos imprudentes que sofrem; quis trabalhar no Vigília. Meu pedido foi aceito e por anos servi aqui, fiz um pouco de tudo. Pude socorrer amigos, parentes e, aos poucos, todos os socorridos passaram a ser meus irmãos. Aqui aprendi a amar a todos, como Jesus nos ensinou.


Tenho um amor especial por este recanto de auxílio. Há treze anos administro o Vigília.

Guilherme, ao falar do Vigília, tinha os olhos brilhando, entusiasmados. Olhei para ele com
admiração, certamente não era, o seu trabalho, fácil. Ali estava somente por amor aos semelhantes e deixava transparecer isso em seus modos, no seu olhar tranqüilo e bondoso. A admiração foi de todos.


A conversa continuou, trocamos idéias sobre o Umbral, da parte que vimos. Conversamos até as vinte horas e nos retiramos para nossos aposentos.


Na Colônia, quase não me alimentava ou dormia. 

Nessas excursões, andar pelo Umbral e ajudar nos Postos nos cansava, despendíamos energia. Assim, precisávamos de alimentação pelo menos uma vez ao dia, e de descanso. Esse descansar era ler algo edificante, meditar e até mesmo dormir algumas horas.

No outro dia, às cinco horas da manhã, participamos da prece matinal. Guilherme convidou D. Isaura para fazer a oração. Nossa orientadora orou com um fervor que nos comoveu. Pétalas claras de fluidos caíram sobre O Posto e sobre nós, fortalecendo-nos, saturando-nos de muita energia.


Logo após, fomos conhecer o Posto Vigília. É um Posto de tamanho médio. Tem salão para palestras, também ocupado para música, sala da diretoria, refeitório, pátio, salas de consultas, alojamentos dos trabalhadores e enfermarias.

Nossos três instrutores ficaram, desde nossa chegada, nas salas de consultas atendendo os abrigados confusos em busca de orientação. Flor Azul ficou o tempo todo ajudando nas enfermarias.


Repartimo-nos em grupos de sete e fomos com os trabalhadores ajudar nas enfermarias. Elas são
compridas, com leitos nos dois lados, têm banheiros simples, tudo muito limpo e claro. Os abrigados têm necessidades: ali comem e usam o banheiro. 


Têm fome e sede, só não sentem frio ou calor porque o Posto tem um sistema parecido com o ar condicionado dos encarnados. Esse sistema é central, deixando o Posto e até seus pátios com temperatura agradável.

Primeiramente, entramos nas enfermarias em que os doentes estavam em condições melhores.


Conversamos com eles e os ajudamos a se alimentarem e a se limparem.


- Você é bonita! - Disse, dirigindo-se a mim, uma senhora muito magra de olhos entristecidos.


- Obrigada. Como está a senhora?


-Agora não Posso me queixar. Já sofri muito. Mas foi merecido. Quando encarnada aprontei muito.


Sorri apenas. Sabia que a curiosidade não leva a nada. Tínhamos recomendações para animar os
enfermos, falar do Evangelho e de Jesus. Mas também de escutar seus desabafos.


- Você é tão boa! Sofreu ao desencarnar? 


- Indagou-me.

- Não, senti que ia dormir e acordei bem e entre amigos.


- Entre amigos. Para ter amigos é necessário fazê-los, não é? Não os fiz, e os que pensei ter eram
piores do que eu. Aposto que não sofreu, porque foi boa!


- Talvez devesse ter sido melhor. Mas não cometi erros, desencarnei em paz e a harmonia me
acompanhou.


- Você não quer me escutar um pouquinho? As vezes tenho vontade de conversar. Os trabalhadores
daqui são ótimos, mas tão ocupados, Sabe, não fui boa em nada. Fui má filha, fugi de casa aos treze anos para o meretrício, fiz muitos abortos. Tive três filhos, dei dois, o outro, antes o tivesse dado. Era um rapazinho esperto, um ladrão. Um dia, ao roubar de um cliente meu, este o matou. Não fui boa mãe. 


Bebia muito, envelheci rápido e a morte me buscou para o sofrimento. Fiquei dezessete anos no Umbral. Quando me socorreram, era um farrapo, estava muito cansada. Há bastante tempo estou aqui.

- E irá melhorar logo - disse animando-a. - Tire dos erros do passado acertos para o futuro. Tente se
recuperar e passar de ajudada a ajudante.


A senhora sorriu tristemente. Dei-lhe um passe, fiz alto uma oração, ela me agradeceu:


- Obrigada!


Um senhor dizia sem parar:


- O café, tenho que colher o café!


Após o passe disse frases maiores, e deu para entender que roubou muito café de seus patrões.


Colhia o café da plantação durante o dia e, à noite, ia pegá-lo. O arrependimento fazia-o ver o fato sem interrupção.

Depois do círculo de orações, ele adormeceu tranqüilo.


E, assim, muitos tinham histórias reais para contar, descortinavam erros sobre erros. A maioria fora
egoísta.


Amaram mais a matéria do que as verdades espirituais. O orgulho e o egoísmo levam muitos à porta larga da perdição, para o sofrimento após a desencarnação. Ao sairmos das enfermarias, Zé comentou:


- Estava com vontade de perguntar a Frederico por que existem tantas enfermarias e, nelas, tantos
necessitados.


Descobri ao escutar esses infelizes. Sabem, Impressionei-me ao ouvir de um senhor que estuprou e matou a Própria filha de oito anos.


Um dos trabalhadores do Posto, ao escutar, argumentou:


- São os imprudentes a que Jesus se referiu. Não fizeram o bem, viveram para a matéria, plantaram o
mal e colheram o sofrimento. E tanto fizeram maldades aos outros e a si próprios, que só poderiam ficar como estão.


Assim, caro estudante, estes abrigos são bálsamos para eles.


Na segunda enfermaria os doentes estavam em Piores condições. Uns falavam sem parar. Ao serem
atendidos com a alimentação, passes e orações, melhoravam, ora aquietando-se, ora falando frases mais coerentes.


Um senhor chamou-me a atenção, o remorso o castigava: ele expulsou os pais, já velhos, de sua casa, e eles desencarnaram em um asilo, sem vê-lo mais. Uma outra senhora falava sem parar que matara. 


Após tomar o passe, lembrou-se do amante que assassinara friamente. Outro senhor lembrava com aflição da filha renegada de sua amante.

“Que bom! - pensei - não ter erros para me atormentar. Como sou feliz! Nada melhor que plantar o bem”.


Visitamos duas enfermarias no Primeiro dia. Os trabalhadores do Posto não fazem o que fizemos.


Não há tempo, porque os operários são poucos para muito trabalho. Acabamos à tarde, fomos para nosso quarto, depois para o refeitório, e dele passamos ao salão de música.


A noite saímos para o pátio. Os muros que cercam o vigília são fortes e altos, e no pátio há uma torre
onde está o sistema de defesa. Para subir lá, usa-se um elevador, Subimos em grupos pequenos. A torre tem trinta metros.


Também tem sistemas de defesa perfeitos e nunca um ataque os preocupou. Margarida, a senhora
encarregada àquela hora da guarda, mOstrou-nos alguns aparelhos que medem as vibrações fora do Posto num raio de três quilômetros. Por ele ficam sabendo quem se aproxima e quantos são. Não se enxerga o céu, nem as estrelas; às vezes, a lua, quando é cheia. 


Olhei do alto da torre, em volta do Posto, não enxerguei nada, só o posto lá embaixo e suas luzes; fora, a neblina e a escuridão.

Quando esperava a vez de subir na torre, olhava distraída um pequeno e bonito chafariz de pedra
verde, com delicados contornos de flores, rodeado de plantas. Flor Azul aproximou-se:


- Está a pensar, Flor Azul de Patrícia?


- Espero a minha vez de conhecer a torre. Foi bom vê-lo. Quero agradecer.


-A menina se lembra do senhor que a agradeceu no Caridade e Luz? Sinto como ele, só que mais
feliz, porque posso acompanhá-la e fazer algo por você. O que lhe faço, gostaria de estar fazendo também a seu pai. Muito devo a ele, ao grupo espírita e a você. Poder retribuir é uma graça. Sou seu amigo desde que você era encarnada. Não me agradeça, faço isso de coração e com felicidade.


- Que bom ser sua amiga, Flor Azul!


-Ao termos bons amigos, temos tesouros. Tendo-os por amigos, você e seu pai, sinto-me rico.


Sorriu de maneira terna. ”É” - pensei -,”ele tem razão. Fazer por ter como amigos bons espíritos é ter tesouros no plano espiritual. Também me sentia possuidora de largos bens”.


Frederico fez a oração da noite e fomos descansar. Fiquei a pensar nos enfermos, no que vi e no que
ouvi deles.


Como a maldade faz mal ao maldoso! Como é difícil a colheita da plantação ruim!


No outro dia, fomos a três enfermarias de irmãos que dormiam em pesadelos. É triste vê-los. Uns
ficam com os olhos abertos e parados. A maioria não fala, seus semblantes são de horror. Estavam todos higienizados e bem instalados e, nem por isso, eram agradáveis de ver. Eles ficam com as imagens dos próprios erros a lhes passar na mente, sem parar. Às vezes, gemem com aflição. Cuidamos deles com carinho, limpando-os, acomodando-os, dando-lhes passes e fazendo orações. 


Muitos, depois, ficaram mais tranqüilos, melhorando suas expressões. O tempo que ficam assim é variado, alguns chegam a ficar anos, outros, meses. Quando acordam, passam para outra enfermaria. Os enfermos vão mudando de enfermarias até ficarem bons. Quando recuperados escolhem o que fazer: ou passam a trabalhar no Posto, ou vão para as Colônias estudar, ou reencarnam.

À noite escutamos músicas. Uma trabalhadora do Vigília nos brindou com encantadoras canções.


Chama-se Cecília, canta muito bem, tem linda voz. 


A boa música ajuda a refazer as energias. É sempre
agradável ouvir canções em companhia de amigos 


- Os trabalhadores do Vigília amam receber estas
excursões e visitas, gostam de conversar, trocar informações. A noite transcorreu tranqüilamente.
Capítulos 5 - Samaritanos
No outro dia, logo após a oração matinal, foi dado o alarme. 

Aproximavam-se os samaritanos.

Continuamos no pátio para esperá-los.


O portão foi aberto e eles entraram.


Vieram em veículos que não há como descrever.


 Não há condições de transmitir situações idênticas,
porque não são iguais, nos dois planos de vida. Só posso transmitir semelhanças de estados psíquico e
espiritual. Podem haver semelhanças visuais, mas não fatos iguais no conteúdo externo e interno.


Ficamos a observá-los, menos Joaquim, que foi ajudá-los.

Samaritanos são os trabalhadores do Posto que saem pelo Umbral a socorrer os que querem auxílio. Estavam vestidos, para melhor trabalhar, de botas altas e capas com gorro de tonalidades do bege ao marrom-claro. 

Como as que usamos para atravessar o Umbral. Os
socorridos estavam seminus, e os poucos vestidos tinham suas roupas sujas e em farrapos. Apiedamo-nos.


Estavam sujos, com cabelos e unhas grandes. Uns falavam, outros permaneciam como múmias, não se
mexiam, embora estivessem com os olhos abertos e aterrorizados. Muitos gemiam tristemente. Por um
instante entristeci. Ver aqueles irmãos daquela forma era comovedor. Nunca pensei em ver tanto sofrimento.


Muitos apresentavam sinais de torturas. Ficamos em silêncio, parece que por momentos não tivemos vontade de falar, a cena nos comoveu.


Uma senhora socorrida, ao ver uma das trabalhadoras, exclamou:


Um anjo! Você é um anjo! Socorra-me, pelo amor de Deus! Os socorridos foram levados para uma
enfermaria própria, especial, para serem limpos e alimentados. Depois seriam encaminhados para as
enfermarias e separados, conforme seu estado.


- Por favor, deixem-me ficar com ela!


Um homem segurava a mão de uma mulher, que dormia em pesadelo.


- Providenciarei para ficarem juntos. Obrigado!


Um samaritano respondeu:


Guilherme confirmou o pedido. Ficariam juntos. Normalmente, pelos seus estados, seriam separados.


Mas aqueles dois estavam unidos e o homem, em estado melhor, se preocupava com a mulher, em condições piores. Notava-se que se amavam. "Ainda bem que ficaram juntos" - pensei.


O grupo de samaritanos era formado por duas mulheres e seis homens. Cumprimentaram-nos sorrindo e foram guardar os veículos. Em seguida, esses trabalhadores iriam alimentar-se e descansar. 


Aproximamo-nos, admirando sua coragem e abnegação. Indaguei a um deles:

- Gosta deste trabalho? Faz isto há quanto tempo?


- Amo ir à procura dos que pedem auxílio em nome de Deus. Fui socorrido por uma caravana como
esta, há quinze anos, neste Posto, e há cinco anos estou nesse trabalho.


- Como se sente a senhora, sendo mulher, num trabalho que exige tanta coragem? - Indagou o nosso distraído Zé a uma das trabalhadoras, uma moça de seus trinta anos e muito bonita.


- Não existe no plano espiritual trabalho só para homens ou mulheres. Aqui somos criaturas de Deus.


Gosto do que faço. Cada vez que regresso ao Posto com irmãos sofredores, é alegria para meu coração.


A caravana trouxe vinte e um socorridos. Esses trabalhadores ficam dias pelo Umbral, vão a todos os lugares onde há necessitados, socorrendo sempre muitos irmãos.


O tempo de permanência no Posto varia de dois a três dias. Nesse tempo fazem planos, traçam rotas
para o próximo socorro.


Logo depois de os socorridos terem sido recolhidos, a torre deu o alarme.


O som deste é uma campainha suave. Há quatro modos de dar o alarme. Três curtos, como foram
dados para os samaritanos, aproxima-se diligência do bem. Um toque suave e longo significa aproximação de irmãos ignorantes.


Outro toque mais alto é para alertar sobre ataques; o que tem um som diferente, avisa que o Posto está
para ser atacado por muitos espíritos. Nada de escândalos, tudo é tranqüilo, porém o som é ouvido até onde estão as pessoas que necessitam ser alertadas. A campainha não toca nas enfermarias.


O guarda da torre nos disse que se aproximava um grupo de dez irmãos trevosos. - Esperemos para ver o que querem - disse Guilherme. Novamente o guarda disse que o grupo havia parado a alguns metros. Logo escutamos gritos.


- Que gritam? - Indagou Luíza. - Dizem Valéria?


- Acho que é Venâncio - disse James.


Um dos socorridos saiu do pátio desesperado.


- É este! É Valêncio! - Explicou um samaritano.


O homem estava em horrível estado, fora torturado e se mostrava muito machucado, os sinais de
tortura marcaram-lhe todo o corpo. Guilherme e um dos trabalhadores o pegaram, levando-o novamente para dentro.


Frederico nos explicou:


- Este socorrido estava sendo torturado por esse grupo. Arrependeu-se e pediu, a tempo, auxílio em
nome de Deus. Desta vez, os socorristas o trouxeram, e seus carrascos vieram atrás dele. Vão levá-lo agora para uma câmara onde não escutará esses chamados.


- Que será que ele fez para ser tratado assim? 


- Indagou Glória com piedade.

- Infeliz de quem faz maldades, porque nem sempre quem as recebe, perdoa. Chega um dia em que a
morte faz com que se encontrem. Certamente o torturaram por vingança - esclareceu Frederico.


- Se eles gritassem meu nome, ficaria, como ele, desesperada? - Perguntei impressionada.


Frederico sorriu e disse:


- Certamente que não. Você não tem vínculos com eles. Para sentir seus chamados é preciso estar
vinculada a eles, ter as mesmas vibrações e ter ficado muito tempo, como esse irmão ficou, com eles. Se um grupo a chamasse, ouviria, simplesmente. Não deve temer.


O medo é para quem duvida.


O guarda da torre ficou atento, mas os do grupo gritaram de longe por trinta minutos. Não tendo
resultado, resolveram ir embora.


- E se atacassem? - Perguntou Luíza preocupada.


- Teríamos que nos defender com raios elétricos 


- respondeu Guilherme tranqüilo.

- O que presenciamos aqui acontece sempre? 


- Indagou Ivo.

- Sim. Às vezes ficam inconformados ao perderem suas vítimas. Alguns, como esses, só os chamam,
outros nos atacam. Mas, uma vez aqui dentro, ninguém sai se não quiser - respondeu Guilherme.


Eram onze horas da manhã, hora de partirmos.


Despedimo-nos alegres, pois voltaríamos ao Posto
para estudar o Umbral. Guilherme nos agradeceu, e Raimundo retribuiu os agradecimentos em nome de
todos. Saímos pelo portão e em fila. Iríamos a pé até o Caridade e Luz e então tomaríamos o aerobus que nos levaria de volta à Colônia.


No Umbral estava frio, mas não percebíamos. 


Como já disse, aprendemos a neutralizar a temperatura exterior. Mas sentia-me um pouco sufocada. Fiquei bem perto do Flor Azul, que continuava tranqüilo.

Confesso que o Umbral me dá medo. Ler ou ver em filmes é uma coisa, mas, lá, pessoalmente, é outra.


Nada tem de bonito ou agradável. Voltamos sem problemas. Quando chegamos ao Abrigo Caridade e Luz, foi um alívio. Só paramos lá para pegarmos o aerobus. Estava cansada, e a condução veio em boa hora.

Que gostoso é estar na Colônia! Chegamos à noite e fomos direto para nosso alojamento, onde nos
alimentamos e descansamos. Gostava de anotar tudo o que via, e era nessas horas de descanso que o fazia; depois de ter anotado, dormi algumas horas.


No outro dia cedinho, tivemos a aula de conclusão.


As perguntas foram muitas.

- Os trabalhadores do Posto recebem bônus-hora? E os samaritanos ganham mais? - Indagou Cecília.


- É fácil aprender. Estudei o assunto no curso de alimentação que fiz na Colônia e transcrevi no livro
Violetas na Janela; o desencarnado que não sabe neutralizar a temperatura exterior sente frio e calor.


Raimundo foi o escalado para responder:


- Para todos são contadas as horas de trabalho.


 Recebem bônus-hora os que querem e precisam.

No trabalho que requer mais esforço e se despende mais energias, recebem dobrado e, às vezes, triplicado, como o dos samaritanos.

- Os samaritanos são atacados? - Quis saber Glória. - Esses trabalhadores são chamados de muitas formas: missionários, emissários etc. 


São atacados muitas vezes. Saem sempre pelas regiões do Umbral e, às vezes, ficam no Posto somente por horas. Rara é a excursão em que não são atacados. Nossos amigos não são intimidados com isso. Possuem redes de proteção e estão sempre com os lança-raios, aparelhos de defesa pequenos. 

São espertos e se saem sempre bem, porque não estão a fim de brigas e, por isso, impõem respeito.

- São heróis! Que trabalho difícil! Admiro-os! Eles têm folga? - Marcela falou entusiasmada.


- Têm folga sim e as passam como querem, uns vêm à Colônia, alguns visitam amigos e outros ficam
no Posto.


- Eles percorrem todo o Umbral? - Perguntei.


- Sim, percorrem. Em cada excursão vão para uma parte do Umbral. Vão em todas as cavernas,
buracos, vales, enfim, por todos os lados. São experientes e conhecem todos os lugares do Umbral nesta região.


- Eles vão também às cidades do Umbral? 


- indagou James.

- Sim, vão. Algumas vezes, pedem autorização para pegar alguns que querem socorro. Outras vezes,
os samaritanos são vistos pelos habitantes das cidades do Umbral socorrendo alguns irmãos. 


Quando esses irmãos não são do interesse dos que lá moram, os samaritanos trabalham sem problemas. 

Mas, quando eles querem socorrer alguém que interessa aos moradores da cidade do Umbral, os samaritanos entram sem serem vistos. Como ocorreu no caso daquele torturado que vimos e que foi chamado pela turma, de fora do muro.

- Há socorristas pelo Umbral, no mundo inteiro? 


- Cida perguntou.

- Sim, pelo Umbral de toda a Terra há socorristas que trabalham em nome de Jesus, auxiliando todos
os que sofrem e clamam por ajuda.


- Esses socorristas nunca ficaram presos? 


Os espíritos ignorantes que gostam do Umbral nunca prenderam alguns deles?

- Indagou Nair.


- Não tivemos notícias de acontecimentos deste tipo. Num aperto maior, eles podem mudar a vibração e tornar-se invisíveis para os outros.


Resmunguei baixinho, e Raimundo me disse:


- Patrícia, quer falar alguma coisa?


- Estou pensando: não quero nem trabalhar num Posto de Socorro nem no Umbral, acho que não
tenho jeito. Mas admiro os que lá trabalham.


- Essas tarefas requerem pessoas com muito amor e caridade. Por isso, devemos respeitar esses
trabalhadores e admirar o que fazem.


Todos nós olhamos para Joaquim, que ficou encabulado. 


-Aqueles que vimos nas enfermarias dos
Postos demoram para melhorar? - Perguntou Cida curiosa.


- Depende muito de cada um. Há irmãos que levam anos para melhorar, para outros a melhora leva
meses.


- Existe socorrido que não gosta do Posto? 


- Indagou Ivo.

- Sim, existe, embora os que para lá são levados queiram o socorro, pois estão quase sempre cansados de sofrer. Estes são normalmente agradecidos. Não podemos levar irmãos que não estejam arrependidos e não queiram o socorro, porque eles acham tudo ruim. Outros dizem que nos Postos há muita disciplina e querem ir embora. 


Alguns espíritos que não sofreram o suficiente e que são abrigados em Postos de Socorro, a pedido de terceiros ou por equipes que trabalham em Centros Espíritas, muitas vezes não gostam e não ficam, voltando aos ex-lares e a vagar.

- Eu - disse Rosália - estive no Vigília como socorrida. Sou grata a todos. Mas ver o Posto como
aprendiz é diferente.


- Claro. Estava enferma, necessitada, conheceu as partes que lhe cabia habitar. Agora, foi conhecê-lo
como estudante, e tudo lhe pareceu diferente.


- Rosália, você lembra alguma coisa de quando esteve lá como socorrida? - Zé perguntou.


- Sim. Como esquecer o sofrimento? Era um farrapo humano, foi doloroso.


O remorso é fogo a queimar.


Como não houve mais perguntas, Raimundo disse: 


- Façam uma redação, escrevam o que viram, o que mais os impressionou.

Não é um trabalho obrigatório. Farão a redação só os que quiserem. Aqueles que têm dificuldades
para escrever e preferem falar, contarão o que sentiram e do que gostaram. Alguns preferem ficar só escutando.


Foram quinze a ler o que escreveram. Todos falaram dos samaritanos. Trocamos idéias. Ivo e Luís disseram que, após o curso, irão trabalhar num Posto no Umbral.


Conhecer esses Postos, esses lugares de paz no meio do sofrimento, nos foi gratificante. São casas de
socorro abençoadas. São refrigério aos irmãos atormentados.


Que bom que há esses locais, e como é maravilhoso neles existirem os trabalhadores do bem!
Capítulo 6 - Desencarnação
Começamos a aula teórica narrando nossas próprias desencarnações. Todos, de fato, têm uma interessante história para contar. Ninguém teve a desencarnação da mesma forma, embora seja natural e para todos.

Narrei a minha, em poucas palavras:


- Desencarnei por aneurisma cerebral, nada vi ou percebi; para mim, foi como dormir e acordar entre
amigos. Adaptei-me logo, era espírita, e este fato ajudou-me muito.


- Veio com diploma! - Exclamou Ivo brincando. 


- Sabia o que ia lhe acontecer e o que ia encontrar. 

É bem esperta!

- De fato - respondi -, quem tem religião interiormente e vive de acordo com o Evangelho é esperto!


O Espiritismo bem compreendido educa para a continuação da vida.


- Acha, Patrícia, que, pelo fato de você ter sido espírita, teve e tem recebido muito aqui no plano
espiritual? - Perguntou Zé, também referindo-se ao fato de Flor Azul nos acompanhar nas excursões por minha causa.


- Zé, o Espiritismo proporcionou-me um ambiente propício para realizar-me interiormente. Segui
realmente a Doutrina de Allan Kardec, vivi o Evangelho de Jesus.


D. Isaura interrompeu delicadamente:


- Patrícia enquadra-se bem num dos ensinamentos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo
XVIII - Muitos os chamados e poucos os escolhidos. No item doze, que nos diz: "Aos espíritas, portanto, muito será pedido, porque muito receberam, mas também aos que souberam aproveitar os ensinamentos, muito lhes será dado".


Zé narrou a sua desencarnação:


- A minha desencarnação foi o máximo, é de morrer de rir. Morri de susto. Verdade! Estava bem,
pelo menos nada sentia. Um dia um amigo e eu fomos dar um passeio de carro. Ao atravessar a linha do trem, o carro parou, enguiçou e nada de pegar. Nisso o trem vinha vindo. Meu amigo correu para fora do carro. A aflição fez-me ficar parado. 


Meu amigo gritou para que eu saísse e, como não saí, ele voltou e tentou de novo fazer o carro pegar, até que pegou, e saiu um segundo antes que o trem passasse.

"'Que susto hein, Zé!'


"Nada de responder. Meu coração simplesmente parou, fazendo-me ter morte instantânea. Na
verdade, só escutei meu amigo falando, depois perdi os sentidos. Meu espírito adormeceu. Acordei sozinho, estava caído perto da linha do trem. Não senti nada, levantei e fui para casa. Lá, uma choradeira total. 


Entrei e outro susto. Vi-me no caixão. Senti-me mal e ninguém ligou. Confuso, fiquei a pensar: 'Morri? 

Fiquei louco? Foi um outro sujeito parecido comigo que morreu?' Mas ninguém me via. Resolvi apelar. Na hora do aperto, como sempre, recorre-se a Deus. Comecei a gritar a Deus, pedindo perdão e socorro.

Senti ser chacoalhado. 'Calma, Zé, que escândalo!'

Era minha mãe que já desencarnara há tempo. 

'Mãe' - disse gritando -, 'me socorre! Morri ou estou louco?' 

'Calma, filho, tente se acalmar'. A senhora é assombração?'  - perguntei mais calmo. 

'Não, sou sua mãe, que muito o ama. Não tenha medo, vou ajudá-lo.' Mamãe levou-me para um canto da casa onde não havia ninguém e voltou à sala, onde estava o caixão com meu corpo, para acabar de desligar-me dele. Dois amigos passaram perto de mim e comentaram: 'O Zé deve estar contando piadas a São Pedro'. O outro respondeu:

 'Morreu de susto, isto é jeito de morrer?'

'Piadas a São Pedro' - pensei -, 'estou passando um tremendo aperto'. Aí, um grupo de senhoras começou a orar, senti-me melhor e mais calmo, foi me dando sono. 'Venha, Zé!'- disse mamãe. Acomodei-me nos braços dela e dormi. 

Acordei e pensei ter sonhado, mas logo me certifiquei de que tudo era verdade. Sempre fui muito alegre e católico freqüentador da igreja. 

Aceitei bem o fato e tratei de me acostumar à nova vida: logo estava trabalhando e hoje faço este curso para melhor servir."

- Eu fui ateu! - Iniciou Ivo. - Ateu convicto de que estava certo. Achava, quando encarnado, que tudo
era pelo acaso. Deus era uma personalidade inventada para aterrorizar os ignorantes. Não existia nada além da morte do corpo. Fiquei doente, uma grave doença que me acamou; aí, às vezes, me perguntava: "Será que estou certo?" Fiquei com medo e julguei que a doença é que me dava temor. A idéia do suicídio veio, porém repeli, não era covarde, agüentaria o sofrimento.


Resolvi esperar pelo fim. Não acreditar em nada é triste, não se tem consolo e, pensando que acabamos, dá uma sensação agoniada.

"Não percebi minha desencarnação. Continuei muito tempo agindo como doente no hospital, sentindo o abandono dos meus familiares. Depois, fui retirado do hospital por espíritos brincalhões e levado ao cemitério. Falaram que morri, que desencarnei, mas não conseguia entender nada. 


Não sabia orar; o pouco do Evangelho que conhecia não me vinha à mente, pois nunca prestara atenção nele. Encarnado, ria das pessoas religiosas, mas não fui mau. Se não fiz o bem, tampouco fiz o mal. Fui pego por entidades maldosas e levado para uma cidade do Umbral, como escravo. Tinha que fazer certos tipos de trabalhos para eles. Anos fiquei assim, até que entendi tudo: a vida continua após a morte do corpo e Deus existe. Cansado de sofrer, recorri a esse Deus em que não acreditava, que é nosso Pai Amoroso.

O socorro não veio de imediato, mas não desisti, a cada dia, com mais fé, clamei por auxílio. Fui
socorrido, levado a um Posto. Agradecido e querendo ficar bom, recuperei-me e passei a ser útil. No Posto fiquei muito tempo. Depois vim para a Colônia trabalhar. Mudei muitas vezes a forma de trabalho, para conhecer como é viver por aqui.


Tendo conseguido pelo meu trabalho elogios, porque nunca fui preguiçoso, e trabalhar forçado como escravo é bem penoso, mas aprende-se a trabalhar, pedi para estudar.

Penso que se conhecer este mundo maravilhoso posso firmar minha fé e ser útil com maior segurança.


Desencarnei há quarenta e cinco anos, vinte e cinco anos sofri vagando e no Umbral. Vinte e cinco
anos é muita coisa, mas foi justo. Quem descrê de tudo só é acordado pelo sofrimento."


Ivo - indagou Luíza, se você tivesse sido mau, iria sofrer mais?


- Certamente que sim, acredito que mais e por mais tempo.


Terezinha falou de sua desencarnação. Ela é calma, fala mansa, é muito simpática:


- Era muito religiosa, gostava muito de orar, mas infelizmente a religião não me ensinou o que seria a
morte. Tive um câncer generalizado, que me causou muito sofrimento.


Aí, indagava a mim mesma: "Por que sofro tanto?


Deus está sendo injusto comigo?" Procurava
fortalecer-me na fé, mas não entendia, e a fé sem raciocínio é difícil de manter. Desencarnei e fui levada para um Posto. Melhorei logo, mas pensava ainda estar encarnada e me curando. Quando me falaram que desencarnei, não acreditei; depois, ao pensar e analisar, fiquei tremendamente decepcionada por não ser como pensava e me tornei apática. Não queria nada, não queria escutar ninguém e pensei novamente: "Que adiantou ter sido boa e devota? 


Deus estaria sendo justo comigo?" Os orientadores do Posto levaram-me a uma reunião espírita. No Centro, vi muitos mutilados e sofredores e escutei do orientador: "Vê como valeu ter sido boa e devota? Observe bem que muitos, ao terem o corpo morto, não tiveram a cura como você, não foram levados para um socorro". Fiquei olhando tudo curiosa, não me incorporei, só escutei, e voltei diferente. Muitas vezes fui às reuniões e, juntamente com orientadores, fui conhecer o Umbral. 

Melhorei, saí da apatia e pude saber que minha desencarnação com sofrimento foi para quitar o passado de erros.

O mundo espiritual me fascinou, e de ajudada passei a ajudante; hoje tenho a graça de estar
aprendendo para servir com mais sabedoria.


Ilda, com simplicidade, narrou sua desencarnação:


- Estava feliz, casada com o homem que amava, e minha casa era um sonho. Ao ficar grávida sentime
a mais feliz das mulheres. Meu parto complicou e desencarnei, após ter tido uma menina. Fui socorrida e levada, após a morte do meu corpo, para um Posto de Socorro. Como sofri. Esforçava-me para não me revoltar. Sentia o choro dos meus pais e do esposo. 


Deixar tudo, quando se é feliz, não é fácil; só se tivermos compreensão, como Patrícia, que também era feliz e continuou sendo. Meus pais pegaram a menina, minha filha, para criar, e meu esposo voltou para a casa de seus pais. Sentia tanta falta deles, queria tanto ter cuidado, acariciado, pegado e amamentado minha filha. Queria estar encarnada! 

Só pensando neles, não dei atenção a mais nada. 

Tive de ser doutrinada, através de uma incorporação, num Centro Espírita, e fazer um tratamento com um médico psicólogo aqui. Só aos poucos fui me acostumando. Meu esposo casou-se de novo e tem outros filhos; minha filha já é uma adolescente.

Agora amo viver aqui, mas não foi fácil. Tudo o que passei foi um aprendizado difícil, mas necessário ao meu espírito.


A desencarnação é o nascer do espírito para o mundo espiritual. Tivemos aula de anatomia.


Estudamos os pontos de força e vimos em filmes como se faz para desligar o perispírito do corpo morto. As equipes de socorro que fazem esse desligamento reúnem-se normalmente em grupo de três a quatro socorristas. Para trabalhar nesse processo, fazem longo estudo e treinamento, e só podem realizar o desligamento, imediato, de poucas pessoas. Por isso, não são muitos nessas tarefas.


Vimos o trabalho deles em filmes, quando faziam vários desligamentos.

Depois desse curso, qualquer um de nós poderia desligar alguém após seu corpo ter morrido, mas não devemos fazer isso sem ordem superior. É bom saber! Saber é poder fazer!


O desligamento se faz de várias formas. Minutos apos a morte do corpo, alguns dias ou meses. Isso
depende do merecimento de quem desencarna.


Estudamos muito a parte do corpo humano e, utilizando bonecos, vimos como se faz o desligamento.


Esses bonecos são cópias fiéis do corpo humano e do perispírito.


Entendemos perfeitamente como funciona o corpo físico, o que ocorre com ele e como se desintegra.
Impressionei-me ao ver, em filmes, o desligamento de pessoas que se suicidam. Sempre é muito
tempo após a desencarnação. Que triste! É a pior desencarnação, embora seja cada caso um caso.


Mas sofre muito quem pratica esse crime contra si mesmo.

A aula teórica foi muito boa e esperava ansiosa pela aula prática.